sábado, 2 de outubro de 2010

RITUAL

Deixem que vistam de vinho este meu corpo de taça,
Brindemos os dias com goles de divinas lágrimas.
O suor do rosto pingando no chão.

Celebrem a lua e se iluminem de sol,
Enquanto a chuva inunda a sala;
É chegada então a hora do ritual:

Com música,
Dança,
E carnaval!

Fogo em vez de água e sal,
Incensos qual a dama da noite,
E então fugiremos do açoite; 
A minha voz entoa, 
mas meu pensamento se cala;

Rompendo todos os limites a bruxa então escapa,
Emitindo seus sons dissonantes,
Segue em frente e pelo guizo da serpente é guiada.

E enquanto isto o meu espírito expira,

A minha matéria esfria;

E, no entanto, a minha alma
Fala.

2005

II

Cantava a noite com as estrelas,
Desejando um porvir melhor,
A lua diminuía a medida de minha fadiga,
Deitei-me em meu leito, 
e então passei a caçar sonhos na madrugada.

Lembrei-me de épocas outras,
Tempos que pareciam tenebrosos,
Experiências todas, virtudes,
Coisas que pareciam ser pior.

O passado é um legado que carregamos com esquecimento,
Não guardamos nossos escritos rasgados enfileirados de conhecimento,
O fato é certo estamos ficando velhos a medida de nosso crescimento,
Enquanto o tempo nos causa está eterna amnésia, relutamos com novos pensamentos.

E avistei com as estrelas a luz que me faltava,
Era quase sexta feira e minha força regressava,
De uma batalha que há tempos travava,
Com a minha vontade antes jaz adormecida. 
Então acordei novamente à vida.

Rebela-se o dia com calor intenso.
No pingar de meu suor a dor de estar só,
Faz-me crer que nada ira mudar,
O planeta aquece e o nosso amor padece.

Enquanto conflitamos cá com nós,
O amor defluiu para longe.
Demos brecha para a inveja,
Que de tempo em tempo bate em nossa porta.

III

“Desenhei um verso no chão com giz,
Nele tinham flores como nunca fiz,
E uma casa grande com um enorme chafariz”.

IV

Sepulcro

Às vezes o vazio nos atinge,
Esta sensação de estar sozinho,
Uma criatura obscura nos absorve,
E então criamos ódio em vez de paz.

É sinistro o outro lado do quarto,
Existe alguém nos observando pela fresta,
Sempre na madrugada fria,
Almas do acaso.

Onde cresci eu aprendi,
Que não devemos falar com estranhos,
Mas os estranhos da rua nos perseguem,
Com seus olhos famintos.

Havia garotas chapadas,
Na festa a fantasia,
Doces arranjos do inferno,
Luzes naqueles rostos, tão pálidas e frias.

Alguém aqui está vivo?
Perguntou a voz ao fundo,
Todos se calaram em um pequeno instante,
Muitos sons e murmúrio!

Alguém aqui realmente sente estar vivo?
Novamente a voz,
Então ergam suas taças e brindemos,
Pois é chegada a hora,

De selarmos nosso sepultamento.

Quando não percebemos o que nos ronda,
Tudo em volta nos engana.
Tudo é mero erro do acaso.

“O andarilho caminhava apressado na noite fria,
O crime nas ruas agora era tão comum que nos atingia até na luz do dia,
A morte é companheira a todo instante,
Enquanto a tentamos driblar”.

Políticos sujos,
Discursam na tv.
Ó Cristo,
Salvem-nos!
E saía da cruz entalhada no altar.

A grande cidade cintilante brilha,
Na avenida luxo e avareza andam juntos,
Os teatros ostentosos
E suas peças de mentira,
Todos procuram por uma fuga.
Até os meus pensamentos, agora tão fugaz,
Procura por uma fresta de luz.

Corremos dentro de um labirinto,
Tropeçamos em tudo,
Nos corredores frios, aquele breu,
Não se via quase nada;

O cheiro de formol se alastrava em todo ambiente,
Enquanto o cadáver era preparado,
Bradava então a voz do silencio,
E então a celebração fúnebre se iniciava.

Será que chegaremos até os portões do infinito?
Será que há consciência de morte em nossos espíritos?
Ou tudo é mero desperdício religioso?
Ou seremos apenas, material particulado?

Não somos nada engolindo tudo,
Desperdiçando toda força vital,
Não apreçamos valores reais,
Desprezamos, ostentando todo bem material.

Guerras!
Fome!
Pestes!
HIV!
Latrocínio!
Corrupção!
Terrorismo!
Apenas há ganância e ambição, mais nada.

O mundo cultiva um câncer generalizado,
Todo o nosso ambiente está condenado,
Haverá sede, calor, enchentes, maremotos... Chega!
Não há nada aqui indecifrável.
  
14/08/2006

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