terça-feira, 12 de outubro de 2010

ODE A VICTOR JARA


A morte ia mandando e recolhendo em lugares e tumbas seu tributo: o homem com punhal ou com bolso, ao meio dia ou na luz noturna, esperava matar, ia matando, ia enterrando seres e ramagens, assassinando e devorando mortos. Preparava as suas redes, esmagava, sangrava, saía nas manhãs cheirando o sangue da caçada, e ao voltar de seu triunfo estava envolto por fragmentos de morte e desamparo, e então matando – se enterrava com cerimônia funeral os seus passos”.                            Trecho de: “A morte do mundo”  de Pablo Neruda

Mate-me
Mas guarde bem o que vou dizer:
Tire de minha vida apenas um corpo,
Pois é a única coisa que vai conseguir me tirar.

Porque o meu pensamento voa
Sopradas ao vento por minhas canções,
Cantadas por nações com louvor
E me liberta agora,

Para além dos limites, que nos separam dos simples mortais.
Hoje a sua tirania também morreu,
E com ela morreu também a memória,
Daqueles que com sangue mancharam a história,
De um povo que sempre lutou,

Por um punhado de esperança,
Lutando com um fôlego de criança,
E hoje seguem fortes,
Conquistando a cada dia uma nova manhã.  
  
Mate-me agora
E você estará matando um homem apenas.
Mate-me agora,
E faça viver o meu espírito de cantor,
Mate-me agora, mas nunca a minha alma,
Mate-me, e fique agora com a minha dor.                                                                             

Duerme, duerme negrito. . .  

17/09/03

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