sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

JULIAN CASABLANCAS DO THE STROKES ENTREVISTA THE DOORS – TRADUÇÃO

Foi publicada dia 20 de janeiro de 2012, no site Complex uma entrevista feita por Julian Casablancas com dois integrantes da banda The Doors: Ray Manzarek e Robby Krieger. A equipe TSBR traduziu a entrevista, que vocês podem ler a seguir:




“Colocando simplesmente, por causa do The Doors, escolhi a música como caminho de vida. Fui realmente atraído pela parte instrumental principalmente, assim como por Jim Morrison, claro. Como músicos, eu os achei únicos e magistrais. Suas músicas, assim como a atmosfera e a intensidade que criaram, tiveram um impacto tremendo em mim enquanto crescia.


Complex perguntou se eu estava interessado em fazer uma entrevista ping-pong com os membros do The Doors Robby Krieger (guitarra) e Ray Manzarek (orgão/teclado) para o seu próximo documentário Mojo Risin’: The Making Of “L.A. Woman” [que estréia essa noite no Egyptian Theatre em Hollywood, e está disponível também em DVD/Blu-Ray], mas na verdade eu estava muito feliz e empolgado por entrevistá-los diretamente.
Se tivesse que descrever meu estilo de entrevista eu diria que é no estilo Chris Farley – basicamente muito animado por ouvi-los falar sobre qualquer coisa. Eu estava muito nervoso antes de pegar o telefone e sinceramente esperava que eles gostassem de mim como entrevistador. Quando começou a parecer que ia dar errado (houve problemas com o áudio no telefone) fiquei silenciosamente mortificado por um minuto, mas no fim foi emocionante falar diretamente com essas lendas. Nós entramos numa chamada em conferência com uma péssima conexão, então Ray (Ray Manzarek, do The Doors), embora falasse extremamente alto no meu ouvido, não podia mesmo me ouvir…”

Entrevista por Julian Casablancas (@Casablancas_J)

Julian Casablancas: Só gostaria de agradecer a vocês, sua banda é a razão pela qual eu sou músico hoje, então estou honrado por entrevistá-los, ou só por falar com vocês, de verdade.

Robby Krieger: Certo.

JC: Acho que vou começar com perguntas aleatórias, se for legal, estejam livres pra dizer “sem comentários” ou…

Ray Manzarek: Quem está falando agora?

RK: Julian.

RM: É Julian quem está falando?

JC: Sim.

RM: Alto e devagar, Julian, porque a conexão está horrível. Julian, você consegue ouvir Ray Manzarek falando com você agora?

JC: Oh, sim. Hey Ray. Como vai? Estou honrado em conhecê-lo… Sei que você provavelmente não consegue me entender, mas vou tentar falar claramente.

RM: Sim, e alto também, como agora. FALE ASSIM JULIAN (falando bem alto), “RAY, QUANDO FOI A PRIMEIRA VEZ…” Você sabe, desse jeito.

JC: Não sei se posso fazer isso.

RK: [Risos.]

RM: Oh, você consegue… é tudo atuação.

JC: Eu sempre amei a música “Universal Mind”. Vocês alguma vez gravaram uma versão de estúdio dessa música ou é apenas algo que vocês fizeram ao vivo?

RK: Eu acho que nós (originalmente) fizemos como parte do “Celebration of Lizard” está certo, Ray?

RM: Po***, eu não sei, cara! Eu não lembro essas coisas. Que obscuro…

RK: Não, nós gravamos para um álbum, mas nunca colocamos em um álbum. Por que, soa como uma canção ao vivo ao invés de uma canção de álbum?

JC: Sim, é ao vivo. Eu sempre pensei que era realmente uma canção maravilhosa.

RK: Não era realmente uma canção terminada, então (tentamos) colocá-la numa obra maior, “Celebration of a Lizard”. Mas eu concordo, é uma boa canção, poderia ser um single…

RM: Nãããão! [Risos.] Você não pode dizer “Universal Mind” na Radio Americana! Seria blasfêmia. Poderia ser como algum tipo de religião grega antiga. Embora eu deva dizer que minha mãe, uma boa garota católica, amou aquela música. Era uma de suas favoritas dos Doors.

RK: Sério? Uau.

RM: Ela cantava pra mim no telefone quando ainda estava aqui. Ela gostaria de cantá-la. Ela faria assim: “I was doing time in the Universal Mind, I was feeling… all right!” esse seria seu pequeno ajuste*…

JC: Eu achei que você não lembraria! É incrível.

RM: Eu lembro… Eu posso lembrar todas as letras como um tipo de teste de memória?

JC: Eu nem sei as letras das minhas músicas.

RM: No The Doors, nós sabíamos todas as letras. Essa era a banda que não tocava só acordes, nós estávamos ouvindo Jim. Eu estava ouvindo Robbie, e sentindo John, e então ouvindo as palavras do Jim. Todos nós sabíamos quando era improvisação e quando não era. Ninguém estava apenas tocando de maneira; nós estávamos sempre ouvindo uns aos outros. Talvez este seja um dos segredos do Doors, não sei. Sempre sabíamos o que cada um estava fazendo.

JC: Sei que você tocava baixo com sua mão esquerda, mas vocês já tiveram um baixista ao vivo? Sinto como se ouvisse um baixo nas gravações ao vivo, algum homem secreto nas sombras, talvez…

RK: Não, não nas gravações ao vivo. Você sabe, tivemos um baixista algumas vezes depois que fizemos o álbum Touch Me, tivemos Harvey Brooks tocando com a gente no The Forum.

RM: Oh, sim, sim, sim. Foi quando tivemos — como chamávamos? O La Cienega Symphony. Tínhamos trompetes e outros instrumentos de corda tocando conosco no Forum em Los Angeles. Mas foi a única vez, as outras vezes eu poderia tocar o baixo com o Fender Keyboard Bass que colocaria sobre o Vox Continental ou o Gibson Kalamazoo.

JC: Para todos os gênios de equipamentos por aí.

RM: E eu sempre pensei nisso como um kazoo portátil.

JC: Vocês sempre tocaram canções ao vivo antes de gravá-las? Ou já que vocês têm um contrato com a gravadora, vocês só as escrevem e gravam quando estão em estúdio?

RK: É o melhor jeito de fazer, você toca nos clubes primeiro ao vivo enquanto puder antes de gravar. Mas então depois do terceiro álbum você tem a ‘síndrome do terceiro álbum’ quando você começa a escrever porque você saiu dessa coisa que fazia nos clubes. E então você precisa começar a escrever no estúdio. Por exemplo ‘Five to one’, nós escrevemos no estúdio e algumas das músicas em L. A. Woman, bem como ‘Riders on the Storm’.

JC: Ouvi a nova música, a propósito. Adorei o trecho “I’m going home, laying down—I’m gonna switch on the television, I’m gonna drown…”

RM: Veio das sessões de L.A. Woman. Nem sabia que existia. Robbie, você provavelmente também não sabia que existia?

RK: Não, esqueci tudo sobre isso.

RM: Foi uma surpresa pra todos nós. Nosso produtor/engenheiro Bruce Botnick estava escavando tudo que fizemos e fez, “Hey, tem uma música nova aqui: ‘Smells So Nice’”

JC: Eu também ouvi ensaios do Jim cantando “Love Me Tender”. Vocês poderiam lançar isso.

RK: Sim, ele estava curtindo muito Elvis. Todos nós estávamos.

RM: Quem não estava, cara, todo mundo – o país inteiro. Quero dizer, Elvis é um ícone. Ele é um deus do rock.

RK: E daí se ele fez filmes estúpidos?

JC: O que vocês achavam de ícones do cinema do tempo? Talvez seja aleatório, mas vocês já falaram sobre pessoas como James Dean?

RK: Oh, sim. Ray e Jim foram ambos estudantes de cinema.

RM: Fomos pra escola de cinema em UCLA então conhecíamos a arte do cinema.

RK: Jim amava Brando.

RM: Verdade, ele amava Brando. Ele viu as calças de couro de cobra de Marlon Brando no filme The Fugitive Kind, inspirado na peça de Tennessee Williams, Orpheus Descending – mas é claro que você não podia chamar um filme de Orpheus Descending. Tinha que ser The Fugitive Kind. Em The Fugitive Kind, Brando usava uma jaqueta de couro de cobra. Então um pouco antes de Jim vestir calças de couro, ele disse “Quero um par de calças de couro”. E eu dizia “Você quer usar couro nas suas coxas? Você quer usar pele de animal em seu corpo?” Ele dizia “Yeah!”.
Perguntei “Não seria muito quente?” ele disse “Não sei, cara, mas eu quero ser como Marlon Brando em The Fugitive Kind.” Pensei, “Ah, sim. Entendi. Boa escolha. Se você quer copiar alguém é uma ótima escolha”.
Tínhamos uma aula em UCLA, não que isso vá fazer parte do artigo, mas saiba que tivemos uma aula em UCLA com Josef Von Sternberg [o aclamado diretor de filmes mudos, 1894-1969] que dirigiu Marlene Dietrich em The Blue Angel, e todos os filmes de Marlene Dietrich. Nós realmente tivemos aula com o cara! E ele trouxe sua decadente sensibilidade dos anos 30 da Alemanha para a sala de aula. Nos mostrou como fez Marlene Dietrich brilhar, e falou sobre filosofia, e a escuridão.

RK: Como ele a fez brilhar?

RM: Como ele a fez brilhar? Bem. Você quer que eu explique suas técnicas de luz? Ele colocou uma borboleta de luz em sua cabeça, ele colocou a luz diretamente sobre a sua cabeça, brilhando…

RK: É isso que um brilho de borboleta significa?

RM: Bem, é a sombra da borboleta debaixo do nariz.

RK: Ahhh… Veja, eles nunca fazem esse tipo de coisa atualmente.

RM: Bem… fazem. Não tanto. Quero dizer, as coisas parecem boas. Eles só não tem mais idéias. Não há mais permissão para filosofar. Você não pode fazer filmes para adultos. O público consiste em jovens de 17 anos em relacionamentos, ou é um monte de gente junta. Esses são filmes que rendem dinheiro. Ou filmes pra crianças. Filmes infantis geram muito dinheiro. São negócios. Sempre foi em Hollywood… Falávamos sobre a idéia de montagem de Eisenstein, você sabe, coisas esotéricas de cinema. Era sobre isso que falávamos. Também falávamos sobre os anos 50 – inferno, Jim e eu estávamos lá. Nós crescemos nos anos 50. Robbie é o filhote.

RK: Eu cresci nos anos 50 também!

RM: Você estava lá também! Nós crescemos com Rock & Roll. Nós estávamos lá com a primeira geração do rock: Little Richard e Jerry Lee Lewis e Chuck Berry – Cristo sagrado, Robby pode tocar como Chuck Berry. Eu amo isso.

JC: Aleatório, mas vocês chegaram a conhecer a banda tributo ao Doors, The Soft Parade?

RK: Sim, eu ouvi sobre eles… Na verdade, toquei com eles uma vez.

JC: Estava me perguntando, só por diversão, se vocês já fariam um show com algum cantor que parecesse e cantasse como Jim Morrison?

RK: Bem [Risos.], Ray e eu temos uma banda onde tocamos músicas do Doors. Nós usamos um cara chamado David Brock. Ele tem um grupo chamado Wild Child, o melhor das bandas tributo. Primeiro, tínhamos alguns caras diferentes e finalmente ouvimos sobre um cara de Journey, o cara que se juntou a eles quando era um cantor de karaokê das Filipinas e as pessoas amaram isso, cara. Eles disseram, “Esse cara soa como Steve Perry, mas melhor”. Então dissemos, inferno, poderíamos usar um cara que faça tributo ao Doors e agora temos David Brock – e ele é realmente ótimo.

David Brock

RM: Sim, ele é um ótimo cantor.

JC: Legal. Eu estava preocupado se os insultaria com essa pergunta. Quando Jim falava, ele falava de maneira diferente fora das câmeras? Ou era sempre aquele jeito de falar lento e perspicaz?

RK: Era como ele falava… sim, era como ele falava a maior parte do tempo. Como se estivesse pensando sobre as coisas que estava dizendo. Muitas pessoas não pensam sobre o que estão falando. Acho que funciona melhor do outro jeito.

JC: Robby, sei que você escreveu um monte de músicas, mas Jim deu alguma ideia para os acordes, ou eram só as melodias?

RK: Bem, ele não tocava um instrumento, mas em algumas músicas ele definitivamente tinha as melodias em mente, ele podia cantar as músicas [antecipadamente].

RM: Exatamente, Jim não sabia nada sobre estrutura de acordes, o que era ótimo. Caso contrário, estaríamos tocando E, A e B o tempo todo.
Então Robbie e eu podíamos determinar a clave em que ele estava cantando, e poderíamos construir os acordes para melodias que ele cantaria. Ele tinha a linha da melodia, o que era ótimo. Ele tocava um pouco de piano, ele teve lições de piano, então ele tinha um senso melódico muito bom. Ele só não conhecia a estrutura dos acordes, o que era perfeito. Acho que foi o que permitiu que Robbie e eu nos estendêssemos e tocássemos coisas diferentes atrás dele enquanto ele estava cantando a linha da melodia que ele tinha descoberto sozinho.

RK: Nessas primeiras músicas, do primeiro disco, muitas dessas, ele na verdade fumaria esse ótimo baseado que ele tinha quando ele vivia na cobertura da casa do Denis Jacob e ele diria que era como um concerto. Ele ouviria em sua cabeça, alguém cantando essa música para ele. E então ele ouvia a música, mas não sabia como fazê-la. Este era o trabalho do Ray, e meu trabalho também.

JC: Houve situações em que, com acordes escondidos, você daria sugestão de certa nota para ele cantar aqui e ali?

RK: Era bem difícil dizer ao Jim o que ele devia cantar, cara. Ele sabia o que ele queria cantar. Nosso trabalho era fazer a música encaixar no que ele cantava – o que nem sempre era tão fácil assim.

RM: Ele tinha uma ótima noção de compasso, sabe, até onde nos permitir ir antes que ele voltasse a cantar de novo. Permitindo espaço para que a música fosse tocada, para uma pequena linha ser tocada na guitarra ou no teclado, então ele voltaria a cantar onde ele deveria voltar.

RK: E algumas das músicas que escrevi, eu poderia cantar pra ele e dizer a ele como cantar. E ele nunca faria como eu disse a ele, mas ele sempre faria melhor.

JC: É legal você dizer isso.

RK: Você toca guitarra ou o que?

JC: Sim, e eu toco piano provavelmente tão bem quanto Jim Morrison fazia.

RK: Quantos anos você tinha quando ouviu The Doors?

JC: Catorze. Meu padrasto me deu uma fita de The Best of The Doors, no tempo que ainda existiam fitas cassete, e foi a primeira música que eu ouvi que senti que podia decifrar todas as partes claramente. E foi quando eu quis tocar. Li um livro sobre The Doors, e sabia cada música e tudo aquilo – não quero te entediar com meu fanatismo.

RK: É legal.

RM: O que é ótimo é que na música, cada nova geração vem e tira algo do passado. Robbie estava ouvindo muito country blues e eu cresci em Chicago então fui influenciado por Muddy Waters, Jimmy Reid e John Lee Hooker. Eu ouvia Bo Diddley na radio em Chicago e pensava, santo Cristo, que tribo é essa?! Bem aqui em Chicago tocando aquela batida incrível. Era tudo que eu queria fazer. Eu ouvi aquilo e fui pego.

RK: Todos aqueles caras vieram do Texas e Mississipi e lugares como esse.

JC: Eu concordo, embora eu também ame a forma como vocês dão mais vida, por assim dizer.

RK: No The Doors éramos uma mistura louca de coisas. Eu tocava flamenco antes de estar no The Doors. John estava no jazz e no blues. Isso que é ótimo em ter uma banda. Você tem todas essas influências diferentes.

RM: E todo mundo era livre na banda pra dar idéias – “Vamos tentar isso!” – na construção das músicas e da batida e da estrutura. Podíamos experimentar com tudo, e tentar tudo, tudo que fôssemos capazes de fazer. Tínhamos um grande time. Os anos sessenta eram fabulosos…

JC: Agora você está se mostrando (Brincando). Tenho uma pergunta estranha, e sinta-se livre pra usar seu cartão de “Sem comentários”. Bob Marley teve muitas crianças e existiram processos de paternidade. Há alguma criança que você saiba, ou reivindicações que você acredite?

RK: Quer dizer, filhos de Morrison?

JC: Sim.

RK: Há um garoto chamado Cliff Morrison que dizia ser filho de Jim, mas eu disse ao cara, “Faça o DNA e então vamos saber.” Ele nunca fez. Minha teoria é de que Jim era estéril. Veja, pense em todas as garotas com quem ele esteve e, você sabe, muitas delas estavam tentando ter um filho seu e isso nunca aconteceu. Centenas delas. Quais são as possibilidades?

RM: Sim, nunca aconteceu. Ninguém apareceu e disse “Eu fou filho de Jim Morrison” até depois que o filme do Oliver Stone saiu. Então eles saíram da toca. ‘Sou filho dele!’ ‘Sou filho dele!’ Houve uma criança chamada Allen Los Angeles, o cara tinha 1,88, Jim Morrison como loiro. Cara, ele era bonitão.

JC: Você deveria ter pegado o número dele.

RM: Eu disse a ele “Você não precisa fazer isso de ‘Sou filho do Jim Morrison’, cara. É bom por 5 minutos!” Quem se importa? Devia formar sua própria banda. Fazer sua própria música. Ele insistia que era filho do Jim Morrison. “Minha mamãe me disse. Não sou filho de um roadie. Sou o filho de Jim Morrison…”

JC: É engraçado… Vocês ainda brigam? Ainda discutem como costumavam?

RK: Brigar? Oh sim.

JC: Como eram as conversas quando vocês iam escrever set lists? Só um de vocês escrevia?

RK: Normalmente nós nos reuníamos antes do set e escolhíamos as três primeiras músicas. Depois era como um jogo qualquer.

RK: Muitas vezes parávamos no palco e nos agrupávamos.

RM: Bem perto da bateria. Nós íamos todos juntos. Todos recuavam. Eu ficava de pé, Jim vinha, Robbie vinha e ficávamos de pé em frente à bateria.

RK: O que você quer fazer, Larry?

RM: Não sei, o que você quer fazer? Era divertido, cara. Era tudo espontâneo. Era tudo uma improvisação baseada na resposta do público. Nós dávamos a eles três músicas. Qual era normalmente a primeira?

RK: Oh, Deus… “Break On Through”? Às vezes “Music’s Over”… Lembro de abrir com essa. Foi com essa que abrimos no The Filmore.

RM: Yeah, normalmente “Break On Through” e “Roadhouse” e então tocávamos “When The Music’s Over” e era uma música longa então depois parávamos e falávamos um com o outro.
JC: Estava me perguntando sobre política, naquela época e agora. A retórica era a mesma, de ambos os lados?
RM: Yeah. Claro. Republicanos querem fazer agricultura orgânica? Não. Eles querem salvar o meio ambiente? Não. Eles são pró-guerra? Sim. A questão dos anos sessenta era criar uma nova sociedade. A sociedade da nova era. O século 21, a Era de Aquário seria um tempo quando faríamos as coisas organicamente. Iríamos descobrir outro jeito de mover automóveis que não fosse petróleo. Os Republicanos fizeram isso? Não. Era o que os hippies queriam.

JC: Vocês pensavam nisso nos anos sessenta – não usar carros movidos a combustível?

RK: Bem, menos combustível, não tínhamos todas as alternativas lá atrás. Gostaríamos de economizar combustível, embora não fosse um grande problema, como é agora, sabe? O que aconteceu foi que tudo estava indo naquela direção quando Kennedy estava lá e então Bobby estava indo assumir depois que Jack foi baleado, mas Nixon assumiu e tudo foi pra merda.

JC: O que vocês achavam de pessoas mais extremistas como Malcolm X. Vocês falavam sobre isso?

RK: Falávamos sobre Malcolm X?

RM: Bem, certamente falamos sobre a liberação negra e igualdade e as panteras negras e Malcolm X, e quem era o cara com o chapéu com a lua e estrelas?

RK: Sun-Ra?

RM: Elijah Muhammed… Estava tudo no ar e todos estavam tentando criar uma nova sociedade. E era sobre isso que falávamos: a nova sociedade, a nova era. Estávamos tentando ser cristãos, você sabe, amar o próximo como a você mesmo. E tentando viver sob as palavras “Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens foram criados iguais”. Os negros não se tornaram iguais. Eles estavam apenas caindo na estrada rumo à liberdade, onde eles podiam na verdade beber da fonte de água que um homem branco podia beber. No sul você não podia sentar no balcão numa lanchonete e comer um hambúrguer. [Com todos os direitos civis e protestos e Rosa Parks, etc...] Era um time maravilhoso. As pessoas não estavam só tomando LSD.

JC: O que vocês pensavam sobre Velvet Underground? Eram um tipo de rivais da costa leste?

RM: Eles eram incríveis. Eles eram ótimos.
RK: Não os considerávamos como adversários. Nossos adversários estavam em São Francisco. Tínhamos que bater The Jefferson Airplane, The Grateful Dead.

JC: Embora eles não sejam realmente uma competição pra vocês. Vocês conheceram John Lennon ou algum desses caras?

RK: Brevemente. Eles vieram em nossa sessão?

RM: George Harrison veio. Ótimo cara. Não poderia ser melhor. George Harrison era ótimo.

RK: Fomos a um par de sessões dos Stones quanto eles estavam gravando Gimme Shelter.

RM: Conheci Charlie Watts na Barneys da 61st e Madison, em New York. Ele estava vestido de cinza, e ele estava cinza. Ele é viciado em roupas novas. Ele fez lista de pessoas mais bem vestidas – o cara gosta muito de suas roupas. Mick e os outros caras vieram para o show no Hollywood Bowl.

RK: É verdade, Mick veio jantar conosco na noite do Hollywood Bowl.

JC: Isso é legal.

RM: Nós conhecemos Mick Jagger!

JC: Acho que vocês podem finalmente dizer que fizeram isso, vocês jantaram com Mick Jagger.
RK: Certo.

[Não tenho certeza se ele notou que estava sendo sarcástico – JC]

JC: Vocês eram músicos sérios quando Jim começou do zero com vocês. Ele cantava em sintonia, ou precisou um pouco de prática?

RK: Ele era um ótimo cantor, cara. Ele mal saía do tom, a menos que estivesse totalmente bêbado. Mas ele era um cantor maravilhoso considerando que ele nunca teve aulas ou algo do tipo. Ele tinha uma incrível variação também. Ele podia cantar num tom mais elevado. Muitos cantores com quem toquei disseram “Podemos fazer ‘Roadhouse Blues’ em E-flat porque eu não consigo alcançar essas notas?”

RM: Ele tinha um ótimo senso de tempo e grande senso de compasso.

RK: Ele era um talento natural.

JC: A propósito, ótimo trabalho em “Severed Garden.” Vocês soaram reeealmente descolados naquela faixa.

RK: Obrigado. É um dos meus álbuns favoritos, realmente. Mostra como Jim escrevia as coisas, e nos permitia colocar música na poesia e fazer funcionar.

RM: Era uma leitura em linha reta. Não havia música, nem idéia de nada. Mas ele tinha um senso inato de tempo e ritmo e espaço que fomos capazes de entrar em cena e colocar a música por baixo e deixar espaço para que fossem tocadas. Robbie, American Prayer é o álbum favorito do meu filho!

JC: Então você tem sua mãe que ama “Universal Mind” e seu filho ama An American Prayer… Eu gosto disso, dois extremos de lançamentos fora do padrão…

RM: E meu pai, claro, gostava de “Light My Fire.”

THE END

*A música é assim “I was doing time in the universal mind, I was feeling fine. I was turning keys, I was setting people free, I was doing all right”. Ele provavelmente quis dizer que ela cortaria esse pedaço que tem no meio.]

Tradução: Equipe TSBR

FONTE: http://www.thestrokesbrasil.com.br


The Doors com David Brock

sábado, 11 de fevereiro de 2012

SILÊNCIO E PAZ



SILÊNCIO E PAZ


O quê você faria
Se não soubesse que 
no fim, tudo ficaria
bem melhor que agora?


Onde você iria?
Quando no fim
enfim perceberia
que era preciso apenas,
ter mantido a calma.


Pare e pense e entenda,
Há muito aí dentro de você,
pronto pra saltar pra fora!
E um pequeno instante,
Poderá ser infinitamente grande,
Quanto nesta hora.


Abra à janela,
Sinta a brisa entrar por ela,
e tranque de vez a porta,
Pra tudo que não importa.


Você sabe bem o que faz,
e muito mais!
Não há grito algum,
capaz de silenciar a sua paz!


Igor Motta


2010


Dedicado à Ivana Arigoni com amor.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

PROJECT 46



Rapaz, e que disco sensacional este “Doa a Quem Doer”, lançado de forma totalmente independente pela banda, que toca um thrash metal moderno muito pesado e cheio de groove, com forte influência de hardcore, e até alguns elementos de death metal melódico em algumas passagens de suas excelentes composições. Lembram um pouco os melhores momentos do grande HATEBREED, mas mantendo um estilo próprio em suas composições.
Após ter lançado um EP com 4 faixas em 2009, com letras em inglês, a banda resolveu mudar todo seu foco, passando a escrever letras em português, e chega a seu debut, produzido pela banda e por Adair Daufembach, que já produziu bandas como HANGAR, PONTO NULO NO CÉU, ACE4TRAYS e HOLINESS. Alias, a produção do trabalho esta perfeita, tanto em relação à qualidade musical cristalina e pesada, como a arte gráfica, muito bem feita.

O álbum foi primeiramente disponibilizado para audição integralmente no site da banda, sendo que agora a versão física esta chegando ao mercado.
Conforme dito, o álbum é todo cantado em português, o que da um toque especial ao som do conjunto. As letras são todas muito fortes e violentas, retratando temas atuais, exarados pelas vocalizações ferozes de Caio MacBeserra. O instrumental também é excelente, com riffs pesadíssimos e solos muito inspirados de Vinícios Castellari e Jean Patton, aliados a uma cozinha muito técnica e matadora, formada pelo baixo pesadíssimo de Rafael Yamada (também responsável por alguns vocais) e pela bateria destruidora de Guilherme Figueiredo.
O disco é todo excelente, sendo que o peso e a agressividade das composições são a chave do sucesso do conjunto. As pesadas e cheias de groove “Atrás das Linhas Inimigas” e “Impunidade” já abrem o disco mostrando toda a qualidade da banda. Além destas, destacam-se “Se Quiser”, cheia de grooves a lá PANTERA; a ultra agressiva “Violência Gratuita”; “Amanhã Negro”, que lembra em alguns momentos ARCH ENEMY; e a melhor de todas, “No Rastro do Medo”, uma obra prima da porradaria musical, cujos riffs beiram a perfeição.
Enfim, a banda lançou um debut matador, que esbanja atitude e determinação, parecendo que já estão na estrada há décadas, e tem tudo para trilhar o caminho do sucesso. Até agora, na minha opinião, a grande revelação de 2011, e este “Doa a Quem Doer” já está na minha lista de melhores lançamentos do ano.



Conheci o guitarrista Vinicius Castellari em 2010, trabalhamos juntos para empresa UOL e dele mesmo veio o convite para ver sua banda, fui em um de seus shows e fiquei impressionado com a energia daquela galera. Vini é um cara divertido e talentoso e fico feliz de saber que o trabalho destes caras está sendo bem falado.
Doa a Quem Doer – Project46
(2011 – Independente - Nacional)
Formação
Caio MacBeserra – Voz
Vinicius Castellari – Guitarra
Jean Patton – Guitarra
Rafael Yamada – Baixo e voz
Guilherme Figueiredo – Bateria
Tracklist
01. 809072
02. Atrás das Linhas inimigas
03. Impunidade
04. Capa de Jornal
05. Se Quiser
06. Violência Gratuita
07. Amanhã Negro
08. #46
09. Dor
10. No Rastro do Medo
11. Acorda pra Vida



sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

CHICO SCIENCE - QUINZE ANOS SEM CHICO SCIENCE



Francisco de Assis França, mais conhecido pela alcunha de Chico Science ( Olinda, 13 de março de 1996 — Recife, 2 de fevereiro de 1997) foi um cantor e compositor olindense, um dos principais colaboradores do movimento manguebeat em meados da década de 1990. Líder da banda Chico Science & Nação Zumbi, deixou dois discos gravados: Da Lama ao Caos e Afrociberdelia, tendo sua carreira precocemente encerrada por um acidente de carro numa das vias que ligam Olinda e Recife. Seus dois álbuns foram incluídos na lista dos 100 melhores discos da música brasilera da revista Rolling Stone, elaborada a partir de uma votação com 60 jornalistas, produtores e estudiosos de música brasileira.


Chico Science participava de grupos de dança e hip hop em Pernambuco no início dos anos 1980. No final da década integrou algumas bandas de música como Orla Orbe e Loustal, inspiradas na música soul, no funk e no hip hop. A fusão com os ritmos nordestinos, principalmente o maracatu, veio em 1991, quando Science entrou em contato com o bloco afro Lamento Negro, de Peixinhos, subúrbio de Olinda. Misturou o ritmo da percussão com o som de sua antiga banda e formou o Nação Zumbi. A partir daí o grupo começou a se apresentar no Recife e em Olinda e iniciou o "movimento" mangue beat, com direito a manifesto ("Caranguejos com Cérebro", de Fred 04, da Mundo Livre S/A). Em 1993 uma rápida turnê por  São Paulo e Belo Horizonte chamou a atenção da mídia. O primeiro disco, "Da Lama ao Caos", projetou a banda nacionalmente. O segundo, "Afrociberdelia", mais pop e eletrônico, confirmou a tendência inovadora de Chico Science e Nação Zumbi, que excursionaram pela Europa e Estados Unidos, onde fizeram sucesso de público e crítica. O Nação Zumbi lançou um CD duplo em 1998, depois da morte do líder, com músicas novas e versões ao vivo remixadas por DJs. A família de Chico Science recebeu indenização de cerca de 10 milhões de reais da montadora Fiat, responsabilizada pela morte do cantor e compositor no acidente que lhe tirou a vida, devido a falhas no cinto de segurança do carro que dirigia e que poderia ter lhe poupado a vida.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. 


A primeira vez que ouvi Chico Science e Nação Zumbi tomei um choque, o que era aquilo, aquela mistura, guitarra distorcida, percussões e uma batida que depois conheci, o Maracatu. Uma revolução foi feita dentro de mim que até então só ouvia Rock e MPB e de repente uns caras de Recife baixam por aqui, nesta época achava que o que mais de relevante que se foi feito por aqui foi nos anos 60 à 80 com a Tropicália e a Psicodelia dos 70 e mais tarde o Rock dos 80. Tudo era um marasmo em termos de música, quem estava por aí continuavam praticamente os mesmos mas com a chegada do movimento manguebeat tudo mudou inclusive eu, a influência de suas letras e suas atitudes no palco me influenciaram, e claro  a vontade de se organizar para desorganizar também. Não acredito que 15 anos já se passaram, lembro dos bares e carros que andavam por ai tocando a todo volume Chico Science e sua incrível Nação Zumbi, hoje infelizmente a pseudo música intitulada funk é que toca nos bares e carros por ai. Um viva a Chico Science e a Nação Zumbi!