sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

O HOMEM QUE AMAVA OS CACHORROS E OPERAÇÃO TROTSKI (DICA DE LIVROS)


A exatamente duas semanas meu amigo Romeu me emprestou este livro, que conta uma história que eu já conhecia mas, de uma forma diferente. Romanceada pelo escritor cubano Leonardo Padura Fuentes, este livro me fez mergulhar em suas mais de quinhentas páginas, de uma forma que não lembrava quando, foi a última vez que me dedicara a ler em tão pouco tempo um livro deste tamanho. 

Confesso que o livro sepultou definitivamente o meu eu jovem, que aos quinze anos, lendo o manifesto comunista de Karl Marx e estudando a revolução russa na escola, tornei-me um socialista convicto, romântico como todos são, sonhando com uma revolução neste meu Brasil de tantas crises. Não tem como não acompanhar a narrativa de Padura, sem comparar o cinismo dos soviéticos, com os cinismos de nossos políticos líderes da esquerda nacional, esta herança stalinista que herdaram muitos dos personagens que estampam as páginas dos nossos jornais, afundados em escândalos de corrupção. 

A história da morte do líder bolchevique eu já conhecia do livro de José Ramón Carmadella: "Operação Trotski", um ótimo livro para a introdução de "O homem que amava os cachorros", nele há um ótimo registro de fotos que nos ajudam a conhecer a cara dos principais personagens desta história.  Chamo de história "O homem que amava os cachorros" por que, apesar de Padura ter usado a ficção para sua narrativa, o livro é rico em pesquisa. 

Não posso deixar de falar da forma que o autor escreve, mesmo para quem pouco importa assuntos relacionados à política, lendo como um romance, que é a maneira correta de se ler esta obra, vai se deparar com uma narrativa que nos prende a atenção ao qual, a todo momento nos faz acelerar o coração e só parar de ler quando as vistas já não aguentam mais, ou por alguma interrupção externa qualquer.  Sem dúvida nenhuma este livro foi um dos melhores livros se não, o melhor que já li até então. 


Resenha

Esta premiadíssima e audaciosa obra do cubano Leonardo Padura, traduzida para vários países (como Espanha, Cuba, Argentina, Portugal, França, Inglaterra e Alemanha), é e não é uma ficção. A história é narrada, no ano de 2004, pelo personagem Iván, um aspirante a escritor que atua como veterinário em Havana e, a partir de um encontro enigmático com um homem que passeava com seus cães, retoma os últimos anos da vida do revolucionário russo Leon Trotski, seu assassinato e a história de seu algoz, o catalão Ramón Mercader, voluntário das Brigadas Internacionais da Guerra Civil Espanhola e encarregado de executá-lo.

Esse ser obscuro, que Iván passa a denominar “o homem que amava os cachorros”, confia a ele histórias sobre Mercader, um amigo bastante próximo, de quem conhece detalhes íntimos. Diante das descobertas, o narrador reconstrói a trajetória de Liev Davidovitch Bronstein, mais conhecido como Trotski, teórico russo e comandante do Exército Vermelho durante a Revolução de Outubro, exilado por Joseph Stalin após este assumir o controle do Partido Comunista e da URSS, e a de Ramón Mercader, o homem que empunhou a picareta que o matou, um personagem sem voz na história e que recebeu, como militante comunista, uma única tarefa: eliminar Trotski. São descritas sua adesão ao Partido Comunista espanhol, o treinamento em Moscou, a mudança de identidade e os artifícios para ser aceito na intimidade do líder soviético, numa série de revelações que preenchem uma história pouco conhecida e coberta, ao longo dos anos, por inúmeras mistificações.

As duas trajetórias ganham sentido pleno quando Iván projeta sobre elas sua própria experiência na Cuba moderna, seu desenvolvimento intelectual e seu relacionamento com “o homem que amava os cachorros”. A narrativa das histórias entrelaçadas dá o ritmo a uma leitura tensa, influenciada pela experiência de Padura na literatura policial, sob a sombra do final trágico que se aproxima a cada página. “Mesmo para quem não se interessa pelos fatos históricos subjacentes à narrativa de Padura, seu romance impele o leitor a uma tensão permanente em torno dos preparativos para a realização de um crime de repercussões mundiais”, afirma Frei Betto na orelha do livro.

Ao narrar um dos crimes mais reveladores do século, Padura realiza uma ambiciosa e fascinante investigação sobre as contradições das utopias libertárias que moveram o século XX. Três processos mitológicos – a Revolução Espanhola, a Revolução Russa e a Revolução Cubana – são vistos com lupa neste romance, que combina perfeitamente o rigor histórico com o talento ficcional. O autor retrata os conflitos no stalinismo e a luta entre o socialismo e o fascismo, apresentando ainda uma perspectiva honesta da vida cubana nas últimas três décadas. “Este romance é como um espelho retrovisor que permite ao leitor mirar, com olhos críticos, as contradições do socialismo e por que a morte de Trotski, decidida por Joseph Stalin, contribuiu para favorecer a queda do Muro de Berlim e o desaparecimento da União Soviética”, conclui Frei Betto.

Trecho do livro

“– Sim, diga-lhe que sim. Ramón Mercader recordaria pelo resto de seus dias ter descoberto a densidade doentia que acompanha o silêncio no meio da guerra segundos antes de pronunciar as palavras destinadas a mudar sua existência. O estrépito das bombas, dos tiros e dos motores, as ordens gritadas e os uivos de dor entre os quais tinha vivido durante semanas tinham se acumulado em sua consciência como os sons da vida, e a súbita queda daquele mutismo espesso, capaz de provocar um desamparo muito parecido com o medo, transformou-se numa presença inquietante quando compreendeu que, atrás daquele silêncio precário, podia esconder-se a explosão da morte. Nos anos de prisão, dúvidas e marginalização a que o conduziram aquelas cinco palavras, Ramón se dedicaria muitas vezes ao desafio de imaginar o que teria acontecido com sua vida se tivesse dito que não. Insistia em recriar uma existência paralela, um trajeto essencialmente romanesco no qual nunca deixara de se chamar Ramón, de ser Ramón, de agir como Ramón, talvez longe de sua terra e suas lembranças, como tantos homens de sua geração, mas sendo sempre Ramón Mercader del Río, de corpo e, sobretudo, alma.”

Crítica internacional

“Leonardo Padura confirma seu status como o melhor escritor de ficção-policial em língua espanhola, um digno sucessor a Manuel Vázquez Montalbán.”
– The Times

"Um excelente romance, rico em sugestões sobre a condição humana e sobre nosso mundo que vão além da estória narrativa direta."
– El Mundo

"Melhor romance histórico do ano. O assassinato de Trotski com uma picareta como o ponto de partida de um dos melhores romans noirs sobre o século XX."
– Lire

"Uma narrativa de tirar o fôlego, uma obra prima"
– Le Figaro

“Um grande romance habilmente construído sobre uma rigorosa base histórica.”
– Livres-Hebdo

“Um romance magnífico, o mais poderoso desse autor. É crítico, sem recorrer a fanatismos, e tem uma grande densidade humana e um intenso dinamismo narrativo.”
– La Vanguardia

“Um romance que exala a experiência narrativa dos bons contadores de histórias.”
– El Correo Español

Fonte: http://www.boitempoeditorial.com.br/



Leia também:

Operação Trotski

Levantando o véu de mistério que cobria o brutal assassinato ordenado por Stalin.

O assassinato de Leon Trotski, comandado a distância por Stalin, foi um dos estranhos e marcantes acontecimentos históricos e políticos do século XX. 

Mas a importância do fato insólito, em virtude da personalidade da vítima, fez com que permanecesse sempre na penumbra a figura do homem que realizou a façanha e que passou à História simplesmente como "o assassino de Trotski". O autor de Operação Trotski decidiu mostrar ao público leitor que Frank Jackson ou Jacques Mornard era antes de tudo Ramón Mercader, um homem de convicções e personalidade próprias. 

A análise minuciosa dos acontecimentos que levaram à tragédia de 1940 é a principal característica desta obra. Ao apresentar objetivamente Ramón Mercader dentro do quadro de circunstâncias concretas que o cercaram, muitas das quais permaneciam ocultas até agora, e ao revelar uma série muito interessante de fotografias, em sua maioria inéditas, José Ramón Garmabella lança nova luz sobre o drama de Coyoacán e abre novos caminhos para as pesquisas que buscam determinar a verdade dos fatos que ali aconteceram.

O interesse da trama e a agilidade e simplicidade da exposição somam-se às demais qualidades da obra, para não permitir que o leitor feche o livro antes de terminar a sua leitura.

de José Ramon Garmadela

Editora: Record


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