quinta-feira, 15 de maio de 2014

OS BRAZÕES - PERDIDOS NO BAÚ DA HISTÓRIA (PARTE 7)

Num país sem memória como o Brasil, onde até obras essenciais de ídolos consagrados não foram reeditados em CD, não é de se estranhar que ainda estejam fora de catálogo muitos álbuns de artistas menos badalados. São discos raros, obscuros e/ou ignorados que, em seu tempo, sintonizaram a música nacional com o que estava rolando no exterior ou romperam com os padrões vigentes nas paradas. A seguir, algumas dessas jóias.
por Fernando Rosa

Psicodelismo antes do AI-5


Os Brazões ganharam evidência ao participar de shows de Gal Costa, em 1969, quando a cantora ostentava o merecido título de musa tropicalista. Espécie de versão nacional de Janis Joplin, ela bancava um repertório de primeira e ainda cercava-se de grandes músicos e arranjos do maestro Rogério Duprat. Com Gal tocaram, além do Lanny Trio, com Lanny Gordin - genial em Gal Fa-Tal (ao vivo) -, o Som Beat e os Brazões.

Na contracapa do primeiro disco do grupo, de 1970, o jornalista Nelson Motta escreve: "O show de Gal Costa foi o maior impacto musical do ano. Novo, Inventivo, violento, terno, internacional e nacional. Numa só palavra: contemporâneo". E segue: "Mas o que faria Gal se não tivesse um poderoso 'calço' para sua arte maior? Foi aí que descobri Os Brazões. E saí falando pra todo mundo...", confessa Motta, antes de encerrar dizendo que, "além dos Mutantes, havia uma pobreza muito grande no campo da música jovem instrumental, para quem não conhecia os Brazões".

O álbum é recheado de covers, a começar por"Pega A Voga Cabeludo", do segundo disco de Gilberto Gil. Ainda estão no LP músicas do genial Jorge Ben ("Carolina, Carol Bela" e "Que Maravilha") e algumas raridades até mesmo para a época: "Momento B/8", do Brazilian Octopus e duas canções dos gaúchos do Liverpool, "Tão Longe De Mim" e "Planador".

Os arranjos são, na maioria dos casos, mais ousados que os originais e também executados com mais explosão e feeling roqueiro. Afinal, eles eram músicos de extrema competência, de qualidade técnica impecável, o que não retirava a emoção -pelo contrário, imprimia ainda mais vibração nas (re)interpretações. O guitarrista Miguel, sob a alcunha de Miguel de Deus, gravou o excelente disco Black Soul Brothers, raridade do funk-soul nacional lançada em 1977.

Apesar da festejada e promissora carreira, a banda não resistiu às profundas mudanças na cena musical brasileira após o AI-5, que baniu fisicamente os tropicalistas e fechou as portas para a sua música. Espécie de pós-tropicalistas, os Brazões pagaram o preço da entrada do "sambão-jóia" (espécie de axé/pagode da época) no mercado e desapareceram, deixando mais um disco perdido no tempo a descoberta das futuras gerações.
Fonte: revista Show Bizz edição 182 - Ano 15 nº9 - Setembro de 2000, velhos recortes de meu arquivo pessoal e Google.

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