terça-feira, 29 de abril de 2014

BRAZILIAN OCTOPUS - PERDIDOS NO BAÚ DA HISTÓRIA (PARTE 2)

Num país sem memória como o Brasil, onde até obras essenciais de ídolos consagrados não foram reeditados em CD, não é de se estranhar que ainda estejam fora de catálogo muitos álbuns de artistas menos badalados. São discos raros, obscuros e/ou ignorados que, em seu tempo, sintonizaram a música nacional com o que estava rolando no exterior ou romperam com os padrões vigentes nas paradas. A seguir, algumas dessas jóias.

por Fernando Rosa 

Mix sonoro antecipado

O disco homônimo do grupo Brazilian Octopus, lançado em 1969, curtiu um dos mais longos anonimatos da história da discografia nacional.

A ponto de muita gente até mesmo duvidar de sua existência. E sem motivos para isso. Entre seus integrantes estavam nomes do primeiro time da música brasileira: Hermeto Paschoal, Lannny Gordin e Olmir "Alemão" Stocker. Razão suficiente para justificar sua reedição, o que não ocorreu nem mesmo em vinil.

Sob a batuta de Hermeto, o disco flui num clima low-fi, antecipando o mix jazz + bossa + ritmos populares (com rock na versão tropicalista) que vingou no fim do século. Um som que, se conhecido, integraria a lista de influências de nomes como Pizzicato Five, Stereolab ou o brasileiro Jupiter Apple

O álbum traz 12 músicas de autorias diversas, incluindo alguns temas populares de autores como André Popp ou Edu Lobo. Algumas curiosidades valorizam o repertório, como a primeira composição de Lanny Gordin, "O Pássaro", que ganhou letra e versão de Catalau (Golpe de Estado); uma parceria do grupo com o maestro Rogério Duprat; e a música "Canção Latina", de Olmir Stocker e Vitor Martins (depois parceiro de Ivan Lins), classificada no Festival da Canção Latino-Americana. Todas as canções são instrumentais. 

Além de Hermeto (flauta) e dos guitarristas Lanny e Alemão, integravam a banda os músicos Aparecido Bianchi (piano e órgão), Carlos Alberto de Alcântara Pereira (Flauta e sax), Douglas de Oliveira (bateria), João Carlos Pageraro (vibrafone) e Nilson Carlos (baixo). Era um time de músicos "escolhidos a dedo", que Hermeto, na ocasião, definiu como "o melhor grupo que existe no Brasil". Apesar da ausência de grandes vôos individuais, a figura de Lanny Gordin destaca-se em faixas como "As Borboletas" (uma harmônica wha-wha) e "Momento B/8" (clássica fuzz-guitar tropicalista).

Lançado originalmente com uma capa "promocional", o LP ganhou seu formato gráfico definitivo trazendo uma foto do grupo e uma moderna logotipia em cores. E, claro, como toda obra rara, o disco esconde uma curiosidade: Hermeto Paschoal não está na foto da capa, pois, segundo conta a lenda, chegou atrasado à sessão, sendo substituído por um funcionário da produção.
Fonte: revista Show Bizz edição 182 - Ano 15 nº9 - Setembro de 2000, velhos recortes de meu arquivo pessoal e Google.

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