segunda-feira, 22 de julho de 2013

FRAGMENTO



Fragmentado,
tudo está absurdamente fragmentado,
os olhos, as lentes,
fragmentado,
idéias e idealismos,
fragmentado,

as roupas e alimentos,
fragmentado,
o mercado e o PIB,
fragmentado,
a música e as conversas,
fragmentado,

os livros e os jornais,
as revistas e os anúncios,
fragmentado,
a morte banalizada,
fragmentada!

a política e o povo,
fragmentado,
a policia e o ladrão,
fragmentado,
o altruísmo e a religião,
fragmentado,

meus gestos, minha opinião,
fragmentado, 
os meus sentimentos,
fragmentado,
os romances, todos,
fragmentado.

O bem e o mal,
fragmentado,
o feio e o belo,
fragmentado,
o fraco e o forte,
fragmentado!

Olhem a bússola, pra onde nos guia?
veem o norte?
vejam as flechas,
veem a luz?
e o fogo?

SONETO IV

Quem é esta que vem, que cada um mira,
que faz de claridade o ar vibrar 
e traz consigo Amor, tal que falar
homem algum pode, e apenas suspira?
Ah, Deus, que olhar é esse que admira,
diga o Amor, que eu não vou saber contar:
tem tanto de humildade, dama ímpar,
que as outras perto dela chamo ira.
Não me poria a contar sua gentileza,
a ela se inclina toda virtude,
e a beleza, como sua deusa, a empossa.
Nunca foi tão alta a mente que é nossa,
nem já foi posta em nós tanta saúde,
que prontamente a tomem na inteireza.


Guido Cavalcanti 

(1250 - 1300)




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