Dia 27/09/2014, eu e minha irmã caçula fomos ao show de lançamento do novo disco da banda O Terno no Sesc Belenzinho aqui na zona leste de São Paulo.
Para quem ainda não conhece: O Terno é uma banda de rock’n’roll de São Paulo formada por Tim Bernardes (23 anos), Victor Chaves (23 anos), e Guilherme d’Almeida (23 anos). Na ativa desde 2009, a banda lançou em 2012 seu primeiro disco, “66”, de forma independente. Desde seu lançamento, em show lotado no Auditório do Ibirapuera em São Paulo, o disco tem sido bem recebido pelo público e crítica, considerado pelo jornal O Globo do Rio como "um dos mais impressionantes discos de estréia de uma banda brasileira" e colocado entre os 25 melhores discos brasileiros de 2012 pela revista Rolling Stone.
Agora eles lançam o seu segundo disco com o titulo de O Terno simplesmente: O Terno
O disco traz a mesma qualidade sonora e bem melhor produzido quanto o primeiro, mas quero falar aqui primeiramente do show de lançamento deste disco que eu vi no sábado no Sesc em São Paulo.
Para começar eu queria dizer que a unidade do Sesc Belenzinho é a minha preferida, é uma unidade nova e por isso tudo nela é muito bonito. É a segunda vez que eu vejo um show na comedoria da unidade, anos atrás eu vi o show da banda Karnak e na ocasião o local estava mais cheio e não pude observar melhor a instalação como neste fim de semana. Assistir a um show neste local é como assistir a um show na sua sala de estar, de tão confortável que é.
Quanto ao show do O Terno, este foi o segundo show desta rapaziada que eu vi, a primeira vez foi na Virada Cultural deste ano. Com uma performance impecável e uma pontualidade que é peculiar da casa que estávamos, a banda tocou seus hits num repertório também repleto de canções do novo disco. Além das conhecidas Tic Tac, Zé, Assassino Compulsivo, Papa Francisco Perdoa Tom Zé entre outras tocaram as novas Vanguarda?, Eu Vou Ter Saudades, Pela Metade, a em inglês Brazil e etc.
O Terno é uma daquelas bandas que são tão bons ao vivo quanto em estúdio, possuem energia, suas músicas possuem uma dinâmica como as bandas das décadas de 60 e 70, aliás, as influências são nítidas aos ouvidos mais aguçados, como a Psicodelia e o bom humor em suas letras herdadas dos Mutantes e do Tropicalismo, do Yeh, Yeh, Yeh da Jovem Guarda, melodias marcantes e rifes de guitarras cortantes, distorcidos de amplificadores valvulados e no ultimo volume.
Apesar da pouca idade dos integrantes da banda na casa dos vinte e poucos anos a banda demonstra uma maturidade de dar inveja, tanto em suas letras como em seu instrumental. Sua postura e performance no palco, sempre conversando entre si e com o público parecia ser de uma banda veterana.O público variava de pessoas como eu na casa dos trinta e poucos anos, ao da idade de minha irmã que tem apenas 14 aos hipsters jovens de 20 anos ou mais. Também havia no recinto senhores e senhoras de cabelos grisalhos que notava-se a alegria e a perplexidade ao ver tanto talento em uma rapaziada tão jovem. O que dizer mais? espero ver muitos outros shows deste grande power trio e desejo longa vida ao O Terno!
Em 66, um Terno mais moleque, mais raiz, mais toco y me voy era visto. Os anos passaram, eles amadureceram e lançaram um novo trabalho, este com apenas o nome do grupo. Com uma capa belíssima, o novo disco promete muito pelo passado recente e pelo potencial deles como compositores.
O início curto de "Bote ao Contrário" e sua melodia meio brega, meio psicodélica, mostra como a influência dos anos 1970 está batendo forte nessa nova geração da música brasileira. Outra coisa para ser observada é a variedade de instrumentos dentro da mesma faixa – nesse caso, tudo funciona muito bem.
Quase um clássico das bandas que moram em São Paulo, mostrar sua leitura pessoal da cidade é quase obrigação. E O Terno faz isso na ótima "O Cinza" que, apesar do nome, tem momentos de delicadeza sonora muito bons, mesclando com uma agressividade em alguns versos.
Com toques de MPB, "Ai, Ai, Como eu Me Iludo" é uma balada romântica simples e bem honesta.
A boa "Quando Estamos Todos Dormindo" é lúdica ao usar o tema sono para tratar de outros assuntos em mais uma canção que não tem floreios e é pautada pela simplicidade.
Não seria absurdo se Boogarins regravasse "Eu Confesso", faixa que se encaixa bem para resumir o atual momento da música brasileira que anda fazendo sucesso no circuito Sesc.
Aparentemente, "Brazil" é direcionada ao público estrangeiro que acompanha a banda. Uma pena que soe como qualquer outro grupo que grava em inglês para atingir outros ouvintes, sendo esse o momento mais baixo do trabalho.
Não é a primeira vez que tenho essa sensação, mas "Pela Metade" parece música dos Saltimbancos. E exatamente por lembrar uma fase da infância é que ela é uma das melhores do álbum.
"Vanguarda?" é a mais pesada até aqui, emulando momentos psicodélicos da música brasileira – é outra que também só é razoável.
Tratando de um tema difícil que é a aposentadoria, de deixar de fazer algo que fez parte de uma vida inteira, "Quando Eu Me Aposentar" consegue expor o tema com uma visão de alguém que está longe disso, mas tem um olhar como poucos.
Já "Medo do Medo" não impressiona por ser mais do mesmo e é bem passável.
"Eu Vou Ter Saudades" tem um clima meio Los Hermanos, meio Marcelo Jeneci, e até que isso é bom, no final das contas. O filão do disco, a melhor canção, está no final.
"Desaparecido" tem uma letra excelente e uma melodia típica de uma história bem contada, e é a única que consegue agradar do início ao fim. Pinta como uma das melhores músicas do ano no Brasil, se não for a melhor. Não é pouco.
O Terno conseguiu fazer um disco mais maduro do que o anterior, mas ainda peca em alguns aspectos – como ficar na zona de conforto em alguns momentos, por exemplo. Mas a última faixa mostra como eles pode, sim, fazer algo diferente e ótimo.
Tracklist:
1 - "Bote ao Contrário"
2 - "O Cinza"
3 - "Ai, Ai, Como eu Me Iludo"
4 - "Quando Estamos Todos Dormindo"
5 - "Eu Confesso"
6 - "Brazil"
7 - "Pela Metade"
8 - "Vanguarda?"
9 - "Quando Eu Me Aposentar"
10 - "Medo do Medo"
11 - "Eu Vou Ter Saudades"
Pra quem ainda não conhece a banda O Terno, recomendo assistir a participação da banda no programa da internet Estúdio Showlivre abaixo: