terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A UTOPIA MESSIÂNICA E OSWALD DE ANDRADE

A Utopia Messiânica 


Um tempo atrás em uma roda de amigos com alguns militantes de esquerda, petistas e artistas, surgiu uma discussão do atual cenário da esquerda no Brasil, numa brincadeira eu disse que se não houvesse o evangelho, a Bíblia, e que se fosse descoberto os livros de Karl Marx e Engels hoje, provavelmente seriam estes nossos Messias, quer dizer Marx como um Cristo e Engels um dos apóstolos, lógico que levando a sério o que eu disse logo a igreja e também os militantes de esquerda me chamariam de herege, pois bem, analisando a coisa e se pensarmos bem, é o mais fraco contra o mais forte,  as lutas de classe, que predomina o pensamento Marxista: "A história de toda a sociedade até hoje tem sido a história das lutas de classe." Alguém com uma ideia "libertária" de igualdade, não fosse os péssimos exemplos dos que conhecemos, "A luta de classes conduz necessariamente à ditadura do proletariado", poderia sim dar voz a algo que parecesse divino, pela dor e insatisfação como deveras aconteceu nas inúmeras revoluções Marxistas. Bom está semana eu descobri que está ideia minha de marxismo messiânico e tal não é uma ideia nova, lendo trechos do Pensamento vivo de Oswald de Andrade descobri que este grande pensador e poeta Paulistano já escrevia algo um pouco parecido a muito tempo atras:

"As condições, que o mundo tinha atingido no apogeu da revolução industrial, encontraram seu grande analista. Foi Karl Marx. O Capital não é somente a teoria econômica que encerra ou o sonho político que propõe. É sobretudo a fixação psicológica e social das classes em luta. (...) 

Baseado numa empolgante documentação, Marx e Engels traçam o novo evangelho que resulta daquele estorno ideológico, quando, no século XVI, se transfere para o êxito e a prestação de contas na terra o que a humanidade ocidental, alentada pelo Sacerdócio, suponha residir no céu. 
Face à morada confortável do burguês e à sua vida faustosa, Marx coloca revolucionariamente o cortiço. Entre ambos a fábrica. É tal a força profética desse Moisés que, como o outro, cai às portas da Terra Prometida, que imediatamente se fixam bases dogmáticas para a luta do proletariado.(...)
As premissas de Marx vieram produzir a atualidade da URSS. É que o estado de Negatividade, o segundo termo de Kojeve, que devia ser superado, consolidou-se no sectarismo obreiro. O operariado evoluiu, não é mais o que Marx fixou na páginas lancinantes d'O Capital, (...) Que é hoje o proletariado? Nas suas indefinidas fronteiras junta-se uma humanidade estuante que reclama a repartição da mais-valia. Seria esconder a realidade, afirmar que, fora da URSS, por meio das leis sociais, não se realiza um fenômeno ascensional de redistribuição dos lucros. Evidentemente, certos grupos detêm ainda na mão privilégios abusivos. E contra isto se luta de todas as maneiras.
Mas o mundo mudou. O que era messianismo, fenômeno de caos na sucessão de crises de conjuntura que deu afinal a crise da estrutura do regime burguês, tornou-se sacerdócio empedernido e dogma imutável na URSS. Houve uma grosseira escamoteação do problema. Evoluída a classe trabalhadora, perdidos os seus contornos, a ditadura de classe se substitui pela ditadura de partido. O fenômeno que deu o fascismo instalou-se no coração revolucionário da URSS e produziu o colapso de sua alta mensagem."

"No prenúncio atual de um novo Matriarcado, que se processa na crise do parentesco, onde quase ninguém mais procura ser pai, esposo, filho - o marxismo militante fixou-se no setor da propriedade. O Estado que se reforçara para se extinguir, prolonga e fortalece os seus arsenais armados, no argumento, sem dúvida exato, de que luta contra o imperialismo."


"O marxismo militante engajou-se na economia do Haver (Patriarcado), escapando às injunções históricas da economia do Ser (Matriarcado). 

E na alienação, no dinheiro, na filosofia do dinheiro, prossegue, dentro da atualidade russa, o surto enunciado pela economia do renascimento. O Estado assume a idolatria do dinheiro. E para ligar com férreas ataduras policiais a massa sufocada, dentro da fórmula áspera de Paulo, "quem não trabalha não come", utiliza a lógica de Aristóteles e a metódica de Sorel, dentro da cortina de ferro de seus limites geográficos e políticos." 

"Quem poderia prever, quem ousaria sonhar que o messianismo em que se bipartiu a religião do Cristo (Reforma e Contra-Reforma) iria medras no terreno sáfaro das reivindicações materialistas do marxismo? Uma pequena correção no texto dos Exercícios Espirituais daria esta proclamação comunista: "Minha vontade é conquistar os povos que estão sob domínio da burguesia. Que lutem todos como eu para que depois dos sofrimentos venham as festas da vitória". No fundo, refulge a promessa messiânica."


"Pelas condições históricas do progresso técnico e social, o trabalhador deixou de ser o pilar das teses românticas de Marx. Mas a autocrítica  desapareceu. Toda a crítica naufraga no sectarismo. O perfeito militante é o mesmo boneco farisaico do puritanismo - socrático ou americano - que se apresentou ao mundo para edificá-lo, pedante, cretino, faccioso. E não seria mais estranho ouvirmos, uma noite, pela boca universal da Rádio-Moscou, que foi proclamado o Dogma da Imaculada Revolução."


Bom o texto não termina aí, mais é neste ponto que eu pretendia chegar, este texto é da década de cinquenta já próximo a morte de Oswald, ao ouvir discursos esquerdistas hoje vejo que este texto é tão atual quanto se parece, fui um aficionado na minha adolescência pelos pensamentos de Marx e os ideais comunistas. No decorrer da vida até os dias atuais foi crescendo em mim as ideias comparativas do uso da ideologia e de pensadores que de alguma forma como a Igreja procuravam com suas palavras mudar ou moldar o pensamento humano, e com estes pensamentos vivos, vimos tanto a Igreja quanto os Partidos políticos angariar seguidores, porém também vi morrer a autocritica, a dialética sugerida, e hoje com todos os avanços tecnológicos e as mudanças das formas de trabalho o discurso revolucionário me parece pedante e ultrapassado, ainda há desigualdades, lutas de classe e muito, mas muito fascismo, minha ideia com estes textos é levar a discussão para as redes sociais e quem sabe encontrar uma nova forma "revolucionaria" de mudar e melhorar nossas vidas.





Um comentário:

  1. Pois é, meu amigo. Planos políticos e econômicos mirabolantes ou modelos de religião e salvação são excelentes instrumentos para criar coesão, identidade e significados p pessoas, e assim fontes de poder quase ilimitadas... felizmente não me iludo c mais nenhum tipo de contrato social

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