terça-feira, 7 de junho de 2016
CONVERSAÇÕES COM JIM MORRISON (ABRINDO AS PORTAS DA PERCEPÇÃO)
Eu sou um grande fã da banda The Doors desde minha adolescência. Conheci a banda por intermédio de um amigo de escola, ainda no ginásio, ele tinha uma foto de Jim Morrison em seu caderno, fiquei curioso em saber de qual banda tratava-se aquela figura. Foi assim pela minha curiosidade e minha cara de pau que fiz amizade com este colega, após isto ele me emprestou o álbum duplo The Best of The Doors, daí em diante fui fisgado pelo som psicodélico dos anos sessenta. Até então eu ouvia muito rock pauleira, heavy metal, hard rock e não sabia quase nada da própria história do rock, do blues e etc.
Ainda não me interessava em literatura, poesia, em outros tipos de arte a não ser quadrinhos e desenhar, já curtia bandas nacionais, principalmente seus textos, mas posso afirmar que foram os Doors que abriram minha mente para a leitura, para outros tipos de som, até para a música brasileira, que e eu até ouvia, mas não me importava tanto, não a toa o nome da banda são: "As Portas".
Fui colecionando seus discos, vídeos, matérias de revistas, alguns livros e então assisti ao filme de Oliver Stone de 1991, que conta a história da banda e principalmente a de Morrison, interpretado por Val Kilmer. Já escrevi sobre o filme por aqui, na época em que vi a primeira vez nos anos 90 até que gostei, mas hoje acho o Morrison de Oliver Stone uma caricatura de mau gosto do verdadeiro.
Depois de ler o suficiente sobre o cantor, conhecer sua forma de pensar e agir, seus escritos e entrevistas, sua biografia, depois de assistir ao grande documentário sobre a banda "When You're Strange" de 2009 dirigido por Tom DiCillo, tomei conhecimento de um Morrison diferente, certo que sim, ele era uma pessoa polêmica, que muitas vezes teve atitudes inconsequentes, mas também um artista inspirado, sensível, extremamente inteligente e culto. Sabia muito bem vender sua imagem, seus movimentos e suas performances de palco muitas vezes eram muito bem calculados, sabia muito bem a mensagem que queria passar para o seu público. A tragédia em sua vida foi justamente por conta de padrões de comportamento, típico do cenário artístico, da combinação perigosa do uso de substâncias químicas e o alcoolismo, que fizeram além dele, muitas outras vítimas no cenário da música pop, entrando na lista do conhecido clube dos 27.
E foi justamente por isso, que resolvi aqui, transcrever um pouco do pensamento de Morrison, alguns trechos de livros, poesias e entrevistas, retirados do meu próprio acervo pessoal.
"Eu acho que mais do que escrever e fazer música, meu maior talento é que eu tenho uma habilidade instintiva de propaganda da própria-imagem. Eu era muito bom em manipular a publicidade com algumas frases do tipo 'políticos eróticos'. Tendo crescido com TV e revistas de massa, eu sabia instintivamente o que as pessoas iriam pegar, então eu soltava estas pequenas jóias aqui e ali, parecendo muito inocente; é claro, eu estava apenas chamando os avisos." - Jim Morrison, 1969
AUTO-ENTREVISTA
Penso que a entrevista é a nova forma de arte. Penso que entrevistarmo-nos a nós próprios é a essência da criatividade. Colocarmo-nos perguntas e tentar encontrar respostas. Um escritor está apenas a responder a perguntas que não foram expressas.
É parecido com responder a perguntas na posição da testemunha. É este lugar estranho em que se tenta agarrar o que aconteceu no passado e lembrar com honestidade o que se estava a tentar fazer. É um exercício mental crucial.
Uma entrevista dá-nos muitas vezes oportunidade de confrontar o nosso espírito com questões, que para mim são tudo aquilo que a arte é. Uma entrevista também nos dá a oportunidade de eliminar o mero preenchimento de espaços em branco... devemos tentar ser explícitos, precisos, ir ao cerne da questão... nada de tretas. A entrevista tem antecedentes no confessionário, no debate, no interrogatório. A partir do momento em que se diga uma coisa não se pode voltar atrás. Já é tarde. É um momento muito vital.
Eu estou como que preso ao jogo da arte e da literatura; os meus heróis são artistas e escritores.
Sempre quis escrever, mas sempre achei que não seria bom, a menos que duma forma qualquer a mão pegasse na caneta e começasse a mover-se sem eu ter realmente nada a ver com isso. Como a escrita automática. Mas nunca aconteceu.
Escrevi alguns poemas, de facto. Acho que por volta do quinto ou do sexto ano escrevi um poema intitulado "The Pony Express". É o primeiro de que me lembro. Era um desses poemas tipo balada. Contudo nunca o consegui trazer à luz.
"House Latitudes" escrevi-o quando andava no Liceu. Eu tinha uma quantidade de cadernos, durante o tempo do Liceu e da faculdade, mas quando deixei os estudos, por alguma razão estúpida - ou talvez sensata - joguei tudo fora... Escrevia nesses cadernos noite após noite. Mas talvez se os não tivesse jogado fora, nunca tivesse escrito nada de original - porque eles eram sobretudo a acumulação de coisas que tinha lido ou ouvido, citações de livros. Acho que se não me tivesse desfeito deles nunca me teria tornado livre.
Ouçam, a verdadeira poesia não diz nada, apenas destaca as possibilidades. Abre todas as portas. As pessoas podem atravessar aquela que se lhes ajusta.
... e é por isso que sinto pela poesia este apelo tão forte - porque é eterna. Enquanto houver pessoas, elas podem lembrar-se de palavras ou combinações de palavras. Mas nada pode sobreviver ao holocausto a não ser a poesia e as canções. Ninguém consegue lembrar de um romance inteiro. Ninguém consegue descrever um filme, uma escultura, uma pintura, mas enquanto houver seres humanos, as canções e a poesia sobreviverão.
Se a minha poesia pretende atingir alguma coisa, é libertar as pessoas dos limites em que se encontram e que sentem. - Jim Morrison - Los Angeles, 1969-71
"As pessoas precisam de Fios
Escritores, heróis, estrelas,
dirigentes
Para dar sentido à vida.
O barco de areia de uma criança virado
para o sol.
Soldados de plástico na guerra suja
em miniatura. Fortalezas.
Navios de Guerra de Garagem.
Rituais, teatro, danças
Para reafirmar necessidades Tribais & memórias
um chamamento para o culto, unindo
acima de tudo, um estado anterior,
um desejo da família & a
magia certa da infância".
Trecho do poema "Poder" dos escritos inéditos de Jim Morrison
extraído do livro: Abismos (assírio&alvim)
"Eu estava menos teatral, menos artificial do que quando comecei. Mas agora, tocamos para uma audiência cada vez maior. É necessário se projetar mais, exagerar, até chegar ao ponto do ridículo. Eu penso que sou um pequeno ponto no fim de uma enorme arena, você tem que compensar a falta de intimidade com movimentos expandidos." - Jim Morrison, 1969
No fim de 1970, Morrison resolveu engordar e deixar crescer a barba, para vestir uma imagem antiglamourosa à moda dos poetas beat. Rejeitava, assim, a cultura de massa que o havia alçado ao estrelato.
Decidiu também sair da banda e se devotar ao exercício literário. Paris lhe pareceu uma cidade inspiradora. Seu primeiro livro, a coletânea de textos The Lords, foi publicado em 1969 pela obscura Western Litographers de Nova York. A tiragem, limitada, era de cem exemplares. O livro, pequeno, juntava notas escritas nos tempos de faculdade para uma possível tese de estética.
A banda tomava o tempo do poeta. No ano seguinte, já planejando seu adeus aos Doors, ele aumentou consideravelmente a obra. Teve publicados The Lords & New Crieation (pela prestigiosa Simon and Schuster), uma versão revista do livrinho de 69 e An American Prayer, poema longo, pela Western Litographers, cujos 200 exemplares, distribuiu para os amigos. Ainda em 1969 encontrou tempo para editar textos: uma "Ode a L.A. Pensando Em Brian Jones, Morto", distribuída em folheto durante a excursão dos Stones pelos EUA, e um artigo para a revista Eye.
Jim Morrison foi poeta de boa envergadura, um escritor pessimista e amante do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, do poeta inglês William Blake, do francês Rimbaud e do beatnik norte-americano Lawrence Ferlinghetti.
Os textos de Morrison não chamam atenção pelos temas. Afinal "on the road", fuga, abandono, rejeição ao dinheiro e gozo erótico eram assuntos da beat generation, anterior aos hippies. Interessante no poeta é o espanto negativista que manifesta diante da chegada da civilização tecnológica. Morrison se amedronta com os novos paraísos artificiais proporcionados pela realidade virtual. O termo ainda não existia, mas ele o intuiu na Eye: "O olho é uma boca faminta/ que se alimenta do mundo/ Arquiteto de mundos de imagem/ que competem com o real". O olho, aqui, não é o humano, mas o olho panóptico dos meios de comunicação (como a internet hoje por exemplo). "As impressões estão me olhando", escreve.
Apocaliptico, o "Rei Lagarto" percebeu que o Éden tecnológico tenta inutilmente ocultar a tragédia do homem mortal: "Fomos pendurados de ponta-cabeça/ à beira da chatice/ Estamos buscando a morte/ na ponta de uma vela/ Estamos procurando alguma coisa/ Que já nos encontrou."
O Rei Lagarto quis alcançar a eternidade por meio da poesia. Sua obra ainda espera pelo reconhecimento. Os estudiosos da literatura americana a desprezam. Consideram-na fruto tardio da beat generation e não a incluem na série literária. Jim foi dos últimos roqueiros a terem encarado a arte como essencial ao homem. Saiu de cena, fechando a cortina de um século que se encerrava prematuramente. (trechos do texto de Luís Antonio Giron retiradas de um especial da revista Showbizz).
Trechos da Entrevista a Lizze James (1967)
O que entende por "liberdade"?
Existem diversos tipos de liberdade, como também milhares de abordagens sobre o assunto... A espécie mais importante de liberdade é aquela que lhe assegura o direito de ser o que realmente é. Seu desempenho na realidade sempre se efetua através de um papel a ser representado. Você descarta sua capacidade de sentir e, na verdade, coloca uma máscara.
Não se pode efetuar uma revolução em larga escala se não houver primeiramente uma ao nível pessoal, individual. A revolução tem de eclodir primeiramente dentro...Você pode não abalar uma pessoa tirando sua liberdade política, mas coibindo sua liberdade de sentir, decerto a destruirá.
Sobre a violência: na verdade, a causa do mal não é a violência ou a paixão louca por ela, mas as forças repressivas.
Isto é verdade, mas em certos casos a pessoa apaixonada pela violência engendra uma cumplicidade secreta com seus opressores. As pessoas buscam tiranos. Colaboram com eles e os sustentam. Cooperam cumprindo as regras e restrições, encantam-se com a violência através de suas breves rebeliões.
Trechos da entrevista à Danny Sugerman (1968)
Como é ser símbolo sexual?
Por algum motivo, não estou verdadeiramente convencido disso. Certas regras arquetípicas existem na sociedade humana. Esta sociedade procura deglutir e penso que esse é precisamente o tipo de assunto oportuno para isto. De qualquer maneira, os únicos lugares onde tal coisa é tomada a sério são algumas revistas e os jornais.
E a propósito de você ser aclamado como "rei do rock orgástico?"
Considero esta uma grande homenagem. A música é muito erótica. Uma de suas funções consiste em purgação catártica das emoções. Chamar nossa música de orgástica é o mesmo que dizer que somos capazes de levar as pessoas a um tipo de orgasmo emocional, através das letras e do som.
O concerto "detona" quando os músicos e o público fundem-se, experimentando uma intensa forma de união. É aterrador e gratificante saber que as cadeias que separam as pessoas umas das outras são desmanteladas no espaço de uma hora.
Trechos da entrevista à Salli Stevenson (1970)
Você é um herói?
Penso-me como uma pessoa inteligente, sensível, com a alma de palhaço que me impele a mandar tudo pelos ares nos momentos cruciais.
Se você pudesse hoje escolher, o que acharia mais importante: ser o Jim Morrison dos Doors ou tentar a carreira de cineasta?
Não posso negar que nestes três ou quatro anos passei ótimos momentos e conheci mais gente interessante que nos últimos vinte anos de existência. Mas não me arrependo. Mas se começasse tudo de novo, procuraria vivenciar a quietude do pequeno e incólume artista, caminhando por sua bucólica vereda.
Trechos da entrevista à Bob Choruch, do Los Angeles Free Press (1971)
Me interessou muito algo que você diz no livro The Lords: "O apelo do cinema reside no medo da morte"; poderia explicar isso?
Não falo em arte em geral, mas refiro-me principalmente aos filmes. As pessoas têm de confirmar suas próprias existências. Muitas coisas tornam-se mais reais se são fotografadas e criam uma aura de vida na tela. Mas estes pequenos aforismos que estão em The Lords, se pudesse dizê-los de outra maneira, eu diria. Seriam mutilados. Não os tomei muito a sério. Escrevi a maior parte deles quando estudava cinema na UCLA. Era na verdade uma tese de estética. Não estava preparado naquela época para fazer filmes, porém estava para escrever sobre o assunto.
Muitas passagens (principalmente aquelas que dizem respeito ao xamanismo) tornaram-se proféticas alguns anos mais tarde. Não tinha a menor ideia sobre o que estava dizendo quando os criei.
No final de The Lords, você define os Lords como pessoas que controlam as artes.
É estranho, mas de certa forma foi isso que eu pensei. Não necessariamente detêm o controle das artes. Esse livro está repleto do sentimento de falta de poder e de auxílio que têm as pessoas frente a realidade. Não têm o poder de controle sobre os eventos ou suas próprias vidas. Alguém sempre os está controlando. A realidade mais próxima a que têm acesso é um aparelho de TV. Quando criei a noção de Lords pensei na oposição total a isto. Para mim, os Lords representam algo completamente diferente. Não posso explicar. Os Lords são uma raça romântica de pessoas que encontraram um meio de direcionar seu comportamento e suas próprias vidas. São totalmente diferentes das demais pessoas.
"As Novas Criaturas". Existem muitas criaturas com as quais você se identifica. Lagartos, cobras e répteis. Faz parte de sua reputação. O Rei Lagarto. Como isso começou?
Tive um livro sobre cobras e répteis que se inicia com a seguinte sentença: "Répteis são descendentes interessantes de magníficos ancestrais." Outra coisa que me fascina neles é seu completo anacronismo em termos de história natural. Se todos os répteis desaparecessem amanhã, isto não abalaria em nada o equilíbrio ecológico. São uma espécie completamente arbitrária. Penso que eles poderão resistir a outra guerra mundial ou a um envenenamento total do planeta. Os répteis encontrarão um caminho para isso.
Isso se adéqua perfeitamente às suas idéias?
Não podemos esquecer que os répteis são associados ao inconsciente e às forças do mal. O poema "Celebração do Lagarto" é uma longa evocação às forças da treva. Mas não tome isto a sério. São apenas palavras e as pessoas não as interpretam deste modo. Se você faz o papel de vilão num western, não significa necessariamente que este é o seu caráter. É apenas um aspecto humano que quer representar. Não estou afirmando nada seriamente, apenas tento ser um pouco irônico.
Mas adoro os répteis. Cresci no Sul e habituei-me a caçar lagartos e sapos com chifres. Mas jamais consegui me aproximar das cobras. Nem consigo pegá-las com a mão. Existe algo muito profundo na mente humana que se relaciona com elas. Representam tudo o que mais tememos. Suas peles são esplêndidas e talvez por isso nos atraiam tanto.
A CELEBRAÇÃO DO LAGARTO
Leões na rua & deambulando
Cães com o cio, enfurecidos, espumando
Uma besta encurralada no coração da cidade
O corpo da sua mãe
Apodrecendo no chão veronil
Ele abandonou a cidade
Foi para o Sul
E atravessou a fronteira
Deixou o caos & a desordem
Para trás
Por cima do ombro
Uma manhã ele acordou num hotel verde
Com uma estranha criatura gemendo ao seu lado.
Suada lamacenta da sua pele brilhante.
Estão todos?
Estão todos?
Estão todos?
A cerimónia está prestes a começar.
ACORDEM
ACORDEM!
Vocês não se lembram onde foi
Terá este sonho parado?
A serpente era ouro pálido acetinada & encolhida
Tínhamos medo de tocá-la.
Os lençóis eram quentes e mortas prisões.
E ela estava a meu lado, velha,
Ele é, não; jovem.
O seu escuro cabelo ruivo.
A suave pele branca.
Agora, corre para o espelho da casa-de-banho,
Olha!
Ela vem para cá.
Não consigo viver em cada lento século do seu movimento.
Deixo a minha bochecha escorregar
O ladrilho fresco e suave
Sente o bom e frio sangue borbulhante.
Os silvos suaves, serpentes de chuva...
UM PEQUENO JOGO
Antes eu tinha um pequeno jogo
Gostava de rastejar no meu cérebro
Penso que sabes qual o jogo que me refiro
Refiro-me a um jogo chamado Enlouquecer
Agora devias tentar este pequeno jogo
Apenas fecha os olhos e esquece o teu nome
esquece o mundo, esquece as pessoas
E nós ergueremos um campanário diferente.
Este pequeno jogo é divertido de fazer.
Apenas fecha os olhos, impossível perder
E eu estou aqui, eu vou também
Liberta controlo, estamos a atravessar
OS HABITANTES DA COLINA
Bem no fundo do cérebro
Passando bem o limiar da dor
Onde nunca há nenhuma chuva
E a chuva cai suavemente sobre a cidade
E sobre as cabeças de todos nós
E no labirinto de correntes por baixo
Sossegada e celeste presença de
Nervosos habitantes do monte nos suaves montes de volta
Répteis com fartura
Fósseis, cavernas, frescas elevações de ar
Cada casa repete um molde
Janela rolou
Um carro de besta trancado contra a manhã
Todos dormem agora
Cobertores silenciosos, espelhos livres
Pó cega debaixo das camas de casais legítimos
Enrolados em lençóis
E filhas, enevoada com sémen
Olhos nos seus mamilos
Esperem! Ouve um massacre aqui
Não pares para falar ou olhar em volta
As tuas luvas e o leque estão no chão
Vamos sair da cidade
Vamos de fuga
E tu és aquela que eu quero me vir!!
NÃO TOCAR NA TERRA
Não tocar na terra, não ver o sol
Nada mais a fazer a não ser fugir, fugir, fugir
Vamos fugir, vamos fugir
Casa no topo do monte, a lua jaz quieta
Sombras nas árvores testemunhando a brisa selvagens
Anda, querida, foge comigo
Vamos fugir
Foge comigo, foge comigo, foge comigo
Vamos fugir
A mansão é amena no topo do monte
Ricos são os quartos e os confortos lá
Vermelhos são os braços de luxuosas cadeiras
E não vais saber nada até entrares lá dentro
Corpo morto do Presidente no carro do condutor
O motor funciona a cola e alcatrão
Anda connosco, não vamos muito longe
Para Este conhecer o Czar
Foge comigo, foge comigo, foge comigo
Vamos fugir
Alguns foras-de-lei vivem junto ao lago
A filha do ministro está apaixonada pela serpente
Que vive num poço junto à estrada
Acorda, rapariga, Estamos quase em casa
Sol, sol, sol
Queima, queima, queima
Lua, lua, lua
Apanhar-te-ei em breve... em breve... em breve!
Eu sou o Rei Lagarto
Posso fazer qualquer coisa
OS NOMES DOS REINOS
Nós chegamos dos rios e auto-estradas
Nós chegamos de florestas e cascatas
Nós chegamos de Carson e Springfield
Nós chegamos de Phoenix encantada
E posso dizer-te os nomes dos Reinos
Posso dizer-te as coisas que sabes
Ouvindo por um punhado de silêncio
Trepando vales até à sombra
O PALÁCIO DO EXÍLIO
Durante sete anos habitei no livre Palácio do Exílio
Jogando estranhos jogos com as raparigas da ilha
Agora estou de volta à terra dos justos
E dos fortes e dos sábios
Irmãos e irmãs da pálida floresta
Crianças da noite
Quem de entre vós fugirá com a caça?
Agora a noite chega com a sua legião púrpura
Metam-se nas vossas tendas e nos vossos sonhos
Amanhã entramos na cidade do meu nascimento
Quero estar preparado
Para os fãs mais jovens de hoje, Jim ainda é objeto de culto, mas eles estão começando a conhecer também sua poesia. Os fãs dos anos 60 e 70 o viam como uma figura carismática, um cantor cujas performances eram teatrais, um teatro ritualístico que descortinava um ideal de liberdade. Após sua morte, foram lembradas frases e pensamentos que ele expressara a respeito da seriedade da poesia. Ele havia ensinado a uma geração de fãs que poemas e canções sobrevivem à morte de uma civilização. Essa crença está de acordo com as mais importantes doutrinas acerca do poder da poesia na França dos séculos XIX e XX.
É bastante seguro afirmar que os muitos estudos já publicados até o ano comemorativo sobre Jim cantor-poeta se farão seguir nos anos vindouros por estudos acerca do Jim poeta. As letras das músicas e os poemas publicados pelo próprio Jim em Lords and New Creatures formam uma parte de sua obra que é bem conhecida hoje. Os "poemas perdidos", hoje publicados por Frank e Kathy Lisciandro em dois volumes, Wilderness e The American Night, estão sendo lidos por jovens fãs, assim como por acadêmicos e literatos. Jim fazia clara distinção entre "letra", escritas para ser musicadas, e "poemas", que não eram concebidos para a realidade da música.
Como estudante e professor de poesia há muitos anos, eu tenho - às vezes inconscientemente e às vezes muito conscientemente - tentado expressar minhas convicções pessoais acerca de poesia, acerca do que é isso, o que ela procura realizar, e acerca do poeta em si, o artista dedicado à arte de fazer versos.
Alguns tipos de poesia - provavelmente suas formas mais elevadas - existem por si mesmas sem necessidade de notas históricas ou biográficas. São estruturas sólidas que transcendem a história e a biografia. E existem outros tipos de verso intimamente relacionados à personalidade do poeta (seus êxtases, suas tragédias, suas obsessões) e aos problemas de sua época - problemas políticos, guerras e vitórias, a fome e outras calamidades. O significado e até mesmo o valor desses poemas pode se perder ou ser mal interpretado se fatos relevantes não forem esclarecidos. Ao ler poesia, aprendemos a ler ora à luz da atemporalidade, ora à luz da justiça ou injustiça social tal como vivida por uma geração. (Wallace Fowlie, trecho retirado do livro Rimbaud e Jim Morrison - os poetas rebeldes)
"Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito."
William Blake
Fontes: Abismos (escritos inéditos) Jim Morrison, editora: assírio&alvim, Jim Morrison por ele mesmo, editora: Martin Claret, revista rollingstone nº 88 janeiro 2014 edição de colecionador, recortes da revista showbizz ano 12/nº 6 junho/96 edição 131, Rimbaud e Jim Morrison - os poetas rebeldes de Wallace Fowlie, editora Campus.
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Bom texto.sinto falta de um fã clube de peso como os de países como México e Itália
ResponderExcluirQue bom me deparar com alguém que vê o reconhecimento de Jim poeta -além do cantor de rock! parabéns pela página, que chegou agora diante de meus olhos em 2020. Concordo com Unknown: no Brasil não temos um fã clube de peso!
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