sexta-feira, 7 de outubro de 2016

SURTO CONTEMPORÂNEO

I

O Intelectual Brasileiro

Intelectual brasileiro
destila seu veneno
tudo o que valha ao próprio ego
é parasitário
esquerdista partidário
compõem bossa na praia para passarinhos
saraus são tão monótonos
como a substância do seu pensamento
intelectual brasileiro
vampiros da vanguarda
querem que cobrem meia
mas querem receber inteiro
passeiam na Paulista de sandália
coque samurai no cabelo
de barba cheia e muito bem aparada
adoram qualquer música que tenham batucada
intelectual brasileiro
é vegano, feminista, marxista e LGBT
um pouco de tudo e muito de nada
intelectual brasileiro
consegue num discurso inteiro
o que talvez se resuma numa palavra
arrogantes
cagam regras
narcisistas sem espelhos
apedeutos diplomados
fazem passeata
adoram uma mamata
e fazem vista grossa
e choram se a cerveja artesanal
do botequim da moda não estiver gelada
se julgam rebeldes
são tão infantis
revolucionários com mesada
Intelectual brasileiro 
Fala mau da globo mas não dispensa o cachê
faz ponta em novela estereotipada
escrevem sobre realidades não vividas
de dores nunca sentidas
e te olham de cima para baixo
com ar de superioridade
já perdi meu tempo com estas linhas
obrigado pela inspiração!
vê se não se meta na minha
vá caçar coquinhos
e leve com você seu banquinho
e seu enfadonho violão
e não me encha o saco!

II

O Lar dos Covardes

Eles abandonaram a maturidade 
e preferiram a inocência 
largaram o nosso rock
por uma malemolência 
tão endêmica
que tornou tudo, tudo, tudo
muito mais careta
eles foram manipulados 
mas não largaram a soberba
tornaram-se aquilo
que combatiam,
recusavam e enfrentavam
fizeram "oposição" a favor
só se for 
mesmo
neste canto verde febril do planeta
o poeta pediu
Brasil
mostre a sua cara!
mas você
preferiu
se esconder atrás de uma máscara
de uma falsa "anarquia"
importada do primeiro mundo
e ainda reclama quando a mesada atrasa!
enquanto o verdadeiro povo 
continua a pagar sua conta
isso mesmo, vá e se esconda
procure abrigo no lar dos covardes!

III

O Amigo

Olha o amigo aí
"amigo dos pobres"
amigo do inimigo
inimigo do povo
amigo imaginário!

Olha o amigo lá no alto
avoando no jato
olhando pra baixo
lavando dinheiro
sorriso amarelado
"amigo da África"
amigo de Cuba!

Olha o amigo lá
na folha de pagamento
contando dinheiro
convencendo convertidos
apenas um grupinho 
tão pequeno que já foi tão grande!
traindo um país inteiro

sobraram apenas os míopes
classe média vermelha
e abaixo à hipocrisia
quem diria que o amigo aí
seria o pai do desemprego, 
do desamparo, da volta da inflação
será que ele não entendeu o que o povo mais anseia

contar com um amigo de verdade,
daqueles que dividimos os dias
amigo no trabalho, na escola ou na feira
amigo que se queira!
olha o "amigo" do pai aí
capitalizando o capital alheio
em nome da filantropia
Quem diria, Marx também queria
cuba libre já!

IV

A hipocrisia é um ateu que reza em segredo
é o moralista novo do politicamente correto
é o socialista que acumula riqueza
e o rico blasé que tem crises de consciência.

É o líder que se diz porta voz do povo
que ele mesmo nunca ouve.
É o crítico do sucesso alheio pela inveja
e a inveja disfarçada de indignação.

A hipocrisia realmente é um político nato.
É o promíscuo que não gosta de palavrão
e o virtuoso da boca pra fora
é aquele cristão só da porta da igreja pra dentro.

É o pastor avarento!
A hipocrisia é um odioso
que vive cobrando amor
do outro. 

V

A supervalorização do prazer
chegou em seu ápice na modernidade
um surto generalizado de hedonismo 
como se o prazer fosse o único bem 
intrínseco da vida

A nossa busca pela felicidade não tem nada a ver com isso,
a ela servimos cada dia de nossa luta individual
em busca do esperado sentimento do dever cumprido,
da realização completa de nossos valores mais íntimos

servimos melhor a qualquer coletividade 
respeitando a individualidade de cada um
e nos sentimos mais livres quando aprendemos isso,
e o efêmero uso de recursos artificiais para alimentar nossos egos,
de prazeres enlatados, só resultaram em grandes frustrações

A depressão será tão certa quanto as horas dos dias,
nenhuma maquiagem dura na cara por tanto tempo
e alteradores de consciência são muletas feitas de madeira fraca,
um dia te levará ao chão e então terá que se apoiar na realidade a força,
e essa busca louca por prazer a todo custo não valerá a escravidão eterna do próprio vício 
é o que eu tenho dito!

VI

Faça uma coreografia sem sentido, 
recite um texto desconexo,
crie um cenário disfuncional
toque um instrumento desafinado
seja irritante!
batuque incessantemente uma mesma batida
faça performances escatológicas
dê aquele toque retal
e as chame de "transformação subjetiva do corpo".
diga que o feio é belo
cante semitonado  
faça colagens infantis 
modele uma escultura disforme
rabisque qualquer coisa de tinta e o intitule de abstrato
justifique tudo com a soberba do seu nada
escreva poesia sem rima
invente novas palavras
faça um monólogo polissilábico sobre um mesmo tema
chame um amontoado de som e imagens de "cinema"
"invente" uma dança disrítmica
fique desnudo gratuitamente 
saia fora de qualquer contexto
chame isso tudo de nova arte
e ganhe a opinião da crítica acéfala!

VII

A verdade sempre foi uma "Persona non grata" no vocabulário de um hipócrita!

VIII

Nenhum Romance (Nova Canção)

As drogas que te fazem a cabeça
te aprisionam e escravizam
Anulam qualquer resquício
da personalidade que já teve um dia
Você se tornou figura do próprio clichê
um fantoche do próprio vício
E não há nenhum romance 
neste seu suicídio!

Ninguém mais te levará a sério
Ninguém mais lhe dará ouvidos
Olhe bem para o espelho
e eu te apresento o teu inimigo
E não há nenhum romance
neste seu suicídio!

A realidade pode ser difícil 
as vezes precisamos de uma boa dose de alienação
mas prazeres artificiais cobram um preço caro
use melhor sua imaginação
busque a arte, o trabalho, a amizade
e a real liberdade lhe dará atenção

Pense alto eleva seu espírito 
assumir erros é a tua porta 
para própria evolução
sempre podemos escrever uma nova canção
Olhe bem para o espelho
e reconheça o teu inimigo
porquê não há nenhum romance
neste seu suicídio! 



Igor Motta
2016











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