segunda-feira, 30 de maio de 2016

CONVERSAÇÕES COM RENATO RUSSO (DICA DE LIVRO)





















Eu sou o irmão mais velho entre três de minha família, hoje eu tenho a idade deste cara quando ele se foi, e minha dica hoje é sobre um livro, acho que ele está fora de catálogo, mas ainda deve se achar em sebos por aí. Trata-se de Renato Russo, o líder, vocalista e letrista da banda Legião Urbana

Antes de falar do livro quero aqui contar um pouco da minha relação com essa banda e em especial com Renato Russo. Na minha pré-adolescência eu conheci a Legião Urbana das rádios, Faroeste Caboclo foi a primeira música que ouvi, o fato de conter palavrões em sua letra era o que fascinava a garotada, uma música de mais de 8 minutos, sem refrão e que foi um sucesso inesperado, não consigo imaginar algo assim hoje em dia. Já na adolescência tive um entendimento melhor das coisas que Renato dizia em suas letras, estava mais antenado sobre a cultura pop da época, MTV, rádios rock, literatura, filosofia e poesia, antes disso a única arte que me interessava era desenhar. 

As letras de Renato eram tão sintonizadas com a cabeça da juventude da época, que em muitas ocasiões davam a impressão que foram escritas diretamente para mim, foi a primeira banda que fiquei ansioso por ouvir álbuns inéditos para esperar aquelas letras, que me serviam como conselho e outras que falavam por mim, das minhas frustrações juvenis, revoltas e claro as românticas que faziam pensar na namorada. 

Infelizmente não consegui ver nenhum show da Legião e nem Renato ao vivo, lembro quê da ocasião de sua morte, eu trabalhava em uma pequena fábrica de componentes eletrônicos, junto com uma garotada também jovem, os mais velhos estavam na casa dos vinte anos e todos gostavam muito da banda, minha mãe fazia salgados para vender e complementar nossa renda e sempre fazíamos aquela vaquinha e encomendávamos coxinhas para lanchar a tarde. No dia da morte de Renato encomendamos 100 coxinhas que meu irmão trazia de bicicleta, neste fatídico dia, foi meu irmão que trouxe a notícia de quê Renato tinha morrido, a galera não acreditou, disseram: esse moleque tá louco, Renato Russo morto? infelizmente meu irmão não mentiu e então fomos atingidos pela realidade. 

Como eu disse no começo sou eu o irmão mais velho de minha família, mas aquele dia meu sentimento foi de ter perdido o irmão mais velho que eu nunca tive. Era assim que eu via Renato Russo, um irmão mais velho, que mesmo sem me conhecer pessoalmente, parecia saber do que eu precisava ouvir e me dizia sempre, em sua música, em seus discos e em suas entrevistas. Tenho este livro a muito tempo e ontem eu o peguei da prateleira para folhear e acabei o relendo, e é este livro que indico hoje por aqui.

Prefácio:

Este livro é, antes de tudo, uma homenagem ao talento de um artista que conseguiu traduzir, em letras inesquecíveis, as aspirações, as dúvidas, as angústias, os sonhos e as utopias de gerações de jovens brasileiros. Morto aos 36 anos por complicações decorrentes da Aids, Renato Russo pode ter desaparecido da nossa ambiência física, mas em hipótese alguma se apagou a chama espiritual de seu inconformismo e de sua rebeldia diante das melancolias e dos vazios que caracterizam o final do século XX. O líder da Legião Urbana constituiu e constituirá uma sólida referência no quadro cultural dos anos 80 e 90. Recusando tanto os preconceitos e as hipocrisias, como as desigualdades e as exclusões, ele combateu o bom combate por uma luz no fim do túnel, na antevisão iluminada de um mundo em que as fronteiras entre o humano e o vivido possam se entrelaçar.

Pois é esse rico imaginário de inquietações, lutas e integridade artística que emerge da seleção das melhores entrevistas concedidas por Renato Russo a jornais e revistas de todo o País. Organizados em ordem cronológica, os diálogos de Renato com destacados jornalistas da área cultural oferecem um amplo painel de seu pensamento sobre variados temas - da música à sexualidade, passando pela política, pelo comportamento e pelas drogas. A edição dos textos fixou-se nos trechos mais elucidativos das entrevistas, para compor uma espécie de roteiro da evolução criativa e intelectual do precoce roqueiro punk que acabaria se transformando em estrela guia da juventude com causa. 

Conversações com Renato Russo pretende, assim, integrar-se a todo e qualquer esforço que vise preservar a memória do grande poeta do Rock Brasil, por si só assegurada na formidável discografia da Legião Urbana e de seus dois trabalhos solo. Ao converter em páginas impressas as ideias de Renato, cremos estar reforçando uma fé que era principalmente dele - a fé na arte como forma insubstituível de conhecimento dos nossos valores mais transcendentes.
Fonte: Livro Conversações com Renato Russo, Letra Livre Editora, dezembro de 1996.


 

 

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