Vou falar de mais um documentário musical, é o terceiro que enfim consegui assistir neste mês. Trata-se do documentário Amy, que conta a trajetória trágica e de sucesso da cantora e compositora inglesa Amy Winehouse.
Sinto dizer que este filme ao contrário dos últimos que indiquei por aqui, não foi nada agradável de ver. Não que o filme seja ruim, longe disso, é muito bem filmado e muito bem contado, acontece quê, eu não vejo graça nas trágicas histórias de ídolos que morreram cedo, consumidos pelo sucesso, pela depressão, pelos abusos químicos, que há tempos vem fazendo vítimas no mundo da cultura pop mundial.
Não há nada de romântico ver seres humanos se deteriorando, pessoas públicas ou não, cada vez mais expostos na vida moderna, explorados por uma industria vampira de celebridades, uma mídia cada vez mais fria e insensível. Pessoas que não tiveram condições de se salvarem sozinhas.
O que ficou conhecido como o "clube dos 27 ou a maldição dos 27" hoje chamo de: "padrão". Padrão este que se repete tanto em anônimos quanto na vida de artistas e pessoas públicas. Talvez um especialista em psicanálise poderá explicar melhor do que eu, apenas estou expondo uma opinião particular sobre o assunto.
Sei que o assunto é delicado, culturalmente complicado de discutir, principalmente dentro deste meio artístico. Exemplos não faltam e no caso de Amy, ficou claro para mim que ela em muitas ocasiões, e o filme me passou essa impressão, de que desesperadamente pedia socorro, não explicitamente, está subentendido em sua música, em suas letras e em sua linda voz. O filme me passou também, a impressão de quê houve por parte de sua família e principalmente seu pai, uma negligência, talvez por ganância e oportunismo. Os sinais estavam todos ali, eu mesmo na época, acompanhando as notícias sobre a cantora, cheguei a dizer que a cantora não viveria muito. A expressão afogar as angustias está certa, as pessoas tendem tratar suas angustias de forma perigosa, a depressão é uma doença muitas vezes incompreendida, a dependência química também, é necessário que as pessoas deem atenção ao assunto com mais seriedade, principalmente a grande mídia que indiretamente ou diretamente, em alguns casos, também é responsável.
Tirando toda essa parte ruim da história, no campo musical o filme é puro deleite, a menina Amy é uma artista completa, foi a melhor coisa que surgiu no mundo da música nos últimos tempos, uma cantora que dominava o jazz, o soul, ela era atemporal, uma compositora de mão cheia e uma voz única e marcante que ficará na memória, na história e no Hall da fama, junto com outras grandes cantoras que já passaram por este planetinha azul.
Abaixo deixo uma ótima crítica do filme publicada no site cineweb:
Crítica Cineweb
23/09/2015
Qualquer pessoa que não esteve fora do planeta Terra entre, digamos, 2009 e 2011, ouviu falar de Amy Winehouse. A questão é que se ouviu falar tanto dela – de sua música, de seus problemas com álcool e drogas e sua morte prematura – que acabamos perdendo a real dimensão do talento e da pessoa. Amy, documentário de Asif Kapadia (Senna), vencedor do Oscar da categoria em 2016, tem, entre outras qualidades, lembrar-nos disso, além de mais uma vez mostrar o talento e a voz superlativos dessa moça que morreu aos 27 anos.
O filme começa com um vídeo caseiro, no qual Amy com apenas 14 anos canta Parabéns a você com outras duas amigas. Não demora muito e ela sobressai, e percebe-se o potencial daquele vozeirão. O documentário do inglês nos ganha logo de partida – especialmente pelo carisma, inteligência e beleza peculiar da biografada. Conhecemos seu lado solar e rebelde e o começo de sua carreira. Só depois se irá tocar nos problemas que a afetaram: a relação tensa com o pai, que deixou a família, a bulimia, o relacionamento doentio e perturbado com Blake Fielder-Civil e as drogas que, então, dominaram sua vida.
Seguindo a ordem cronológica dos fatos, resgatando imagens de arquivo e outras inéditas, os principais depoimentos de Amy vêm de um grupo de amigos de infância e do pai, Mitch Winehouse, que, a certa altura, explora o talento da filha para ganhar dinheiro, mesmo estando ela visivelmente fragilizada.
Amy diz que fará o que seu pai mandar, irá onde ele mandar – e, durante as gravações de seu segundo álbum, “Back to Black”, o filme deixa claro que, se ela tivesse procurado tratamento naquele momento, é pouco provável que sua história tivesse o desfecho que teve. Mas seu pai a apoia e diz que está tudo bem – então, para ela, está tudo bem. Quando na música Rehab, ela diz “meu pai acha que estou bem”, é sintomático.
É o começo do fim, com separações e brigas com Fielder-Civil e mergulho em drogas pesadas. As diversas tentativas de se livrar do vício se tornam cada vez mais difíceis de serem levadas até o fim – sendo vigiada em tempo integral e cruelmente massacrada na mídia (com direito a piadas grosseiras com seus problemas). O filme mostra a cantora como uma grande mulher, mas frágil, e, como deixa claro um figurão do mercado musical: ninguém está preparado para esse tipo de fama.
Talvez não seja apenas a mídia a culpada por tudo – o pai de Amy, por exemplo, vai visitá-la na Ilha de Santa Lucia, quando ela foi passar uma temporada longe de tudo e começa a ficar melhor. Ele, no entanto, não vai sozinho, e leva consigo uma equipe de televisão de um reality show. Na exibição do filme no Festival de Cannes, em maio passado, Mitch Winehouse contestou a história, e disse que o filme tirou o episódio do contexto. Mas há fatos suficientes no documentário para desconfiar das intenções dele – como quando, por exemplo, a coloca dentro de um jato praticamente dormindo para ela acordar na Sérvia, onde passou um de seus maiores vexames no palco, pouco antes de morrer.
Numa premiação do Grammy, quando ela ganhou por Back to Black, derrotando entre outros Justin Timberlake e Beyoncé, enquanto toda sua família e amigos celebram, ela chama sua melhor amiga num canto e diz: “Nada disso tem graça sem drogas”. Quais opções ela tinha? E as pessoas de seu convívio? Kapadia não toma partido, não indica possibilidades – ele deixa isso ao público. O que o filme nos entrega é o legado da voz poderosa de Amy Winehouse – uma das maiores artistas que o século XXI conheceu até agora. (Texto de Alysson Oliveira)
Sinopse
Amy Winehouse foi uma das cantoras mais brilhantes e talentosas dos últimos tempos, cuja morte precoce deixou uma lacuna na cultura pop. Este documentário resgata a trajetória da artista, contando com imagens inéditas e depoimentos de pessoas que conviveram com ela.
Fonte: http://cineweb.com.br/filmes/filme.php?id_filme=5003
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