segunda-feira, 28 de abril de 2014

LUIZA MARIA - PERDIDOS NO BAÚ DA HISTÓRIA (PARTE 1)

Num país sem memória como o Brasil, onde até obras essenciais de ídolos consagrados não foram reeditados em CD, não é de se estranhar que ainda estejam fora de catálogo muitos álbuns de artistas menos badalados. São discos raros, obscuros e/ou ignorados que, em seu tempo, sintonizaram a música nacional com o que estava rolando no exterior ou romperam com os padrões vigentes nas paradas. A seguir, algumas dessas jóias.

por Fernando Rosa 

Um anjo no pop nacional

Mesmo que insista em não saber disso, o Brasil teve sua Carole King, com direito até mesmo à beleza da cantora e compositora americana. A moça atende pelo nome de Luiza Maria e gravou um raro e clássico disco em 1975, pela Philips, acompanhada por músicos como o ex-Traffic Jim Capaldi e os iniciantes Lulu Santos, Rick Ferreira e Antônio Adolfo. O repertório, moderno e com frescor pop, incluía uma canção inédita de Raul Seixas.

Com uma carreira tão promissora quanto meteórica, Luiza Maria entrou na história do rock nacional com o álbum Eu Queria Ser Um Anjo. Em dez músicas, a maior parte de sua autoria, ela mostra seus refinados atributos de compositora, desfilando rocks, blues e climas zeppelianos, produzindo um resultado sem similar na época. Com sua voz um pouco rouca - mas  quente e afinada - e transitando entre o rock de Rita Lee e a MPB de Gal Costa, disputa espaço entre as melhores cantoras de sua geração.

Atualíssimo em todos os aspectos, o disco abre com o folk-rock "Na Casca Do Ovo", sinalizando o tom alegre e comovente da obra. "Você precisa entender que o seu charme já era/E se você fecha a porta/Eu entro pela janela/ Te mostro o versso que eu fiz/Te ensino o rock de novo/E com um beijo bem dado/Eu quebro a casca do ovo...",canta. "Maya", só dela, com arranjos de Capaldi, traz a guitarra de Lulu Santos, com o Vímana, em um dos momentos mais inspirados de sua carreira. "Tão Quente" destaca, além da jazzística interpretação vocal, o piano "feito em casa" de Antônio Adolfo. E o envolvente funk-latino "Miro Giro" paga tributa a Santana.

"O Príncipe Valente" assinala a parceria Raul Seixas-Paulo Coelho no álbum. "Não Corra Atrás do Sol " , com um saltitante piano de Mu (A Cor do Som) e fuzz-guitar de Rick, tem a clássica pegada roqueira dos anos 70. Mas é em "Universo E Fantasia", com um clima de "Stairway To Heaven", que o rock setentista deixa sua marca mais profunda.

Após 39 anos, Eu Queria Ser Um Anjo continua moderno, nada devendo aos melhores discos gravados em seu tempo e esperando que sua beleza desperte a sensibilidade de novos ouvintes.
Fonte: revista Show Bizz edição 182 - Ano 15 nº9 - Setembro de 2000, velhos recortes de meu arquivo pessoal e Google.

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