quarta-feira, 2 de outubro de 2013

65 POEMAS E INFINITAS QUESTÕES



Comemorando os três anos do meu blog resolvi selecionar 65 poemas de minha autoria que venho postando sempre, desde 02/10/2010, aqui estão as escolhidas:

1º 

AUSÊNCIA

Olhem nos meus olhos aqui dentro,
Por fora há apenas lágrimas,
Um fio pequeno de pensamento,
E em minha língua há uma lâmina,

Ah!...Rasgando as palavras,
E gritando por silêncio.

No alto e solto sinta o vento,
É o que nos roubam agora,
Aqui dentro há firmamento,
Mas não sabemos o que há lá fora,
                                                                                                                
Ah!...Se for dor ou é medo?
Gritando por silêncio!

E mais nada.

2003

2º 

AQUELE

Sou pedra onde o mar quebra,
Rocha e talismã,
Sou bica dàgua que cai da serra,
Noite e manhã,

Um sopro do vento a chuva que cai,
Um livro guardado em segredo,
Sou o que se quer mais.

Sou a parte fria do sol,
Do lado de traz,
Sou a voz do redentor,
Rogando por paz,

Sou aquele escondido dentro de mim,
Um amor intenso que não tem fim.

11/12/2004

3º 

RITUAL

Deixem que vistam de vinho este meu corpo de taça, brindemos os dias com goles de divinas lágrimas. O suor do rosto pingando no chão.

Celebrem a lua e se iluminem de sol,
enquanto a chuva inunda a sala;
é chegada então a hora do ritual:

Com música,
dança,
e carnaval!

Fogo em vez de água e sal,
incensos qual a dama da noite,
e então fugiremos do açoite; a minha voz entoa, meu pensamento se cala.

Rompendo todos os limites a bruxa então escapa,
emitindo seus sons dissonantes,
segue em frente e pelo guizo da serpente é guiada.

E enquanto isto o meu espírito expira,
a minha matéria esfria;
e, no entanto, a minha alma
fala.


2005



“Desenhei um verso no chão com giz,
nele tinham flores como nunca fiz,
e uma casa grande com um enorme chafariz”.



TRIBUTO AOS NÁUFRAGOS (NAVIO FANTASMA)

Atracado estava, num cais do porto,
um náufrago navio, um corpo semimorto,
um morto vivo, tal qual um zumbi, estava ali,
carregado de algas num casco tosco.

Enfileiravam-se para o desembarque, todos de olhos fundos, seminus, imundos, todos só de pele e osso; um alvoroço de defunto perdido,
procuravam atentos, alguém talvez, que os tivessem perdidos, na imensidão daquele oceano:

Um amor partido, um parente amigo, um pai, uma mãe. Nos escombros de uma embarcação sumida em tempos findos, erguiam-se capitães e marujos, do mais luxuoso barco, nunca antes visto, agora, um cemitério flutuante.

Havia caveiras amantes, com taça de champanhe nas mãos, brindando o que ali se findava, uma longa jornada, para o fim daquela viajem.

05/07/2006



SAUDADES

“Penso que eu era uma vez
Penso que nós éramos
Teu leite é meu vinho
Minha seda, teu brilho.”
James Douglas Morrison

Com toda franqueza amor,
o nosso amor é uma fortaleza.
com toda a certeza amor,
a distância é a nossa fraqueza.

É tão fácil entender o mundo,
quando estamos juntos.
e é tão complexa a vida,
quando se há despedida.

Longe, minha vida
é tão incerta,
longe, me sinto em um abismo
em plena queda.

Longe, me falta o homem,
e me resta o poeta.

25/01/2005



APNÉICO (APNÉIA DO SONO)

“Todos os sonhos professam manhã,
Sob a noite o poeta deflora
Lirismo alecrim sobre a luz diuturna,
Vencida nessa que é dulcíssima pugna”
Michael Meison, trecho de Prelúdio
(O andor das estrelas)

Forjaram a nossa cela
para que nós não nos sentíssemos livres;
nos cantos havia os candelabros e as velas
e no chão mil cacos de vidro.

Havia dor, eu sei.
havia pouca luz e muitos sons e gritos.
Ao fim, um corredor,
e debaixo dos pés,
o abismo.

A inquietação de tudo o que há.
naquela pequena e escura sala não havia saída,
dialoguei com a própria morte,
para entender um pouco da vida.

Senti bem perto, sussurros de demônios meus,
estático, consciente e ao mesmo tempo adormecido,
gritei por ajuda, talvez de Deus,
achando que já tinham me esquecido.

Perdi a respiração!

Ai então acordei... 
Havia silêncio, e uma grande sensação de alívio,
no lugar das celas havia as janelas,
e em vez da prisão havia um abrigo.

28/08/2005



O VENTO E A CURA

O vento seco e impuro,
bateu de leve na face,
deitado torto e curvo,
rasgou com os dentes a frase.

Ergueu em punhos com lógica,
e desenhou sem tinta a razão,
sentou-se a beira da forca,
ajoelhou-se pedindo perdão!

Com os olhos amargos suspirou,
uma pequena gota de magoa,
com as lágrimas gritou alto,
pela morte mantenho a palavra:

De que haverá paz!
e conheceremos o amor,
porque nunca fora tarde demais,
para que haja cura é preciso existir dor.

2003



MUITO ALÉM DE NÓS

Tudo acabou e se exauriu com o tempo,
não sobrou nada amor,
esvaiu-se com o vento.

E o que há em mim além de dor e tormento?
e o que há em nós?
e o que há de haver deste nosso sentimento,
desmazelado?

Este nosso coração negligente, desmerecido!
esta nossa fraqueza,
este meu decadentismo.

E quando novamente
encararmo-nos de frente,
será tão estranho amor!
Encarar a verdade assim,
repleta de paixão e sofrimento.

O que será de nós?
Este meu jogo lúdico que faço hoje
com quem não merece penar assim,
é o meu refúgio covarde.

Descontar minha angustia
com filosofice de bar,
não é lá muito saudável,
mas é o que eu tenho.

Amor eu lhe suplico
que quando chegar a minha hora,
você me prepare um belo epitáfio.
e eu lhe darei as mais belas rosas

que estão no canteiro,
só para você lembrar
que não se deve chorar um choro terno,
apenas para dizer adeus.

14/12/2005

10º

QUANDO JÁ NÃO SOMOS NÓS

Quando eu não for mais uma lembrança recente,
é porque vou estar entrando no limbo de seu esquecimento, quando me olhares em alguma fotografia antiga e você me notar como apenas um rosto entre outros, é por que não passei de alguém comum que passou pela tua vida.

E quando a tua vida já estiver estabelecida,
você notará que eu não fiz diferença alguma,
quando você se tornar importante ou tiver filhos,
é porque definitivamente já estarão mortos os nossos velhos planos, mas quando se sentir abandonada, lembre-se que nem tudo é o que parece ser, nem sempre optamos pela escolha certa.

Porque quando já não somos nós,
tentamos ser outro alguém
que desconhecemos,

E o que deveras fomos,
um dia se torna desconhecido
e não nos enxergamos mais no espelho.

Ai então nos veremos como pássaros fora do ninho,
em minha oculta verdade eu optei em ficar sozinho,
vivendo das mentiras para suportar a dor de tudo o que eu perdi.
De tudo em quê acreditei,
o amor.

07/07/2005

11º

BORBOLETA

Cores,
são tantas.
e pequenas são as asas da borboleta.

flutua,
sobre o jardim,
como se estivesse à espera de algo

O futuro nunca foi tão indecifrável.
e os dias correm,
a soma dos dias
resulta em nossas imagens no espelho.

Nunca foi tão difícil sonhar como hoje,
nunca foi tão misterioso.
devemos seguir como a corrente de um rio,
e ultrapassar as pedras no caminho.

Nunca fomos assim tão individuais no ponto de não nos vermos, de não acompanharmos as estações do ano, de não nos darmos conta do estrago;
de ainda temer ultrapassar a ponte entre os nossos abismos.

Há um monstro dentro de nosso eu solitário,
mastigando por dentro tudo o que somos,
a fogueira nunca mais foi acesa,
e nunca foi tão abafado o som do nosso canto.

Devemos temer a nossa própria bondade,
a nossa total falta de ganância;
somos feras reprimidas, em jaulas moldadas
por arquitetos cegos.

Há uma força que ainda existe,
no vácuo de nossos pensamentos,
querendo encontrar razão no absurdo,
teimando ainda em respirar.

Uma força surda!
que nos empurra,
sempre perto, do nosso lado,
sempre a flutuar:

Colorida,
e cheia de vida!
rompe as paredes viscosas do casulo,
e toma de assalto o ar.

Sobre o jardim,
sobrevoa uma linda borboleta.

02/2006

12º

A OUTRA MARGEM (VELEIRO NOTURNO)

Olhos sós e atentos,
caçadores de imagens.
Existe ritmo correndo as tuas veias,
e pensamentos navegando
em tortuosos mares.

Há uma ilha deserta
habitando os teus sonhos,
um instante inquieto
na imensidão do oceano.

Um espírito de um poeta bêbado,
entre a sua selva, vagueando,
em busca de palavras únicas,
no dicionário do desencanto.

Enquanto a sua chuva ensopa
o rio de lágrimas,
as montanhas surgem nuas
atrás da névoa pálida.

E continuaremos a espera do veleiro noturno,
dos guardadores de alma,
economizaremos as nossas poucas moedas,
para oferecer-lhes como o pagamento:
para a passagem deste nosso lado para a outra margem!

2006                                          

13º  

SER HUMANO

E você que só fez de mais – valia o nosso amor,
esqueceu-se que além de nós existe um outro mundo
esperando-nos, e esperando a passagem da
nova estrela guia.

Como uma Condor, voa a procura de abrigo,
de um canto de paz.
Procurando um novo ninho, pra lá,
para muito além do porto e do caís, debaixo da mais alta Jaqueira, lá bem dentro do Jângal.

Onde o homem faz parte do caminho, por que
é também ponte para o outro lado do saber.
E além ainda do simples querer, és o equilíbrio, entre Deus e o Jurupari, o inferno e os céus:

É o senhor da Terra, aquele que tem consciência
dentre todos os animais, mas que ainda não aprendeu a trilhar sozinho, sem desrespeitar a natureza...

Contrariando a virtude de ser humano.

              30/08/2003                      

14º

ODE A VICTOR JARA

Mate-me
mas guarde bem o que vou dizer:
Tire de minha vida apenas um corpo,
pois é a única coisa que vai conseguir me tirar.

Porque o meu pensamento voa
sopradas ao vento por mil canções,
cantadas por nações com louvor
e me liberta agora, para além dos limites, que nos separam dos mortais.

Hoje a sua tirania também morreu,
e com ela morreu também a memória,
daqueles que com sangue mancharam a história,
de um povo que sempre lutou,

Por um punhado de esperança,
lutando com um fôlego de criança,
e hoje seguem fortes,
conquistando a cada dia uma nova manhã.  
  
Mate-me agora
e você estará matando um homem apenas.
mate-me agora,
e faça viver o meu espírito de cantor,
mate-me agora, mas nunca a minha alma,
mate-me, e fique agora com a minha dor.                                                                           
Duerme, duerme negrito. . .   

"A morte ia mandando e recolhendo em lugares e tumbas seu tributo: o homem com punhal ou com bolso, ao meio dia ou na luz noturna, esperava matar, ia matando, ia enterrando seres e ramagens, assassinando e devorando mortos. Preparava as suas redes, esmagava, sangrava, saía nas manhãs cheirando o sangue da caçada, e ao voltar de seu triunfo estava envolto por fragmentos de morte e desamparo, e então matando – se enterrava com cerimônia funeral os seus passos”.                                                                

Trecho de: “A morte do mundo”  de Pablo Neruda


17/09/03

15º

O UNDERGROUND DO SERTÃO

Aqui o undergrund não é cult,
nem ao menos conhecem espaços retrôs e freqüentam o feshion wick.

Aqui ninguém desfila Daslú, e nem vão a reaves,
aqui não se fala inglês, só se fala brasileiro, a mais 
popular língua do país.

Aqui cão é cão, e gato é gato e ambos são apenas bichos.
Aqui gente é de verdade e apenas números.

Aqui a fome é de verdade, não é apenas uma manobra, de políticos “do povo”.
Terra de gente humilde é assim, nascem no paralelo, alternativos por natureza, não desfilam enfeitados com tendências de moda etiquetada, só pra se dizerem undergrunds.

Aqui a moda é outra, aqui a tendência é sobreviver, ser artista a todo tempo, aqui ninguém passeia no Masp e nem no Mam, aqui as cores sim, possuem mais vida, e o bronzeamento não é artificial,
aqui somos o que somos, independentes de rótulos, somos apenas, gente. 

2006

16º

CRIAÇÃO DIVINA 1

Abra os olhos agora,
sinta a brisa que vem de fora,
deixe a janela aberta,
veja o vale, e a sua relva.

Sonhe!
o vento é o que compõem:
a dança das palmeiras,
a graça das figueiras,
exuberante, acalifa.

Finda o dia com a luz da lua que ilumina mentes inquietas.

2006

17º

A LISTA

Entrei e sentei,
esperei,
perguntei,
se o meu nome estava na lista,
naquela,
de espera,
pra passar no analista.

1994

18º

O MEU CANTO (PRIMEIRO MOMENTO)

Sei que o meu canto é torto
canto feito um sopro,
de palavras ao vento.
Eu canto, desafinado, rouco,
meu canto, vozeamento.

Canto em cordas e devaneios,
meus amores, os meus sonhos,
lamentos e descontentamentos,
canto ao som do violão,
acordes, todos:

Acordes mudos, sussurros,
surdos, vibratos,
baixos e altos,
timbrados,
rasgados;
canto,
armado de pensamentos.

10/07/2006

19º

DOCE VOLÚPIA

Como eu gostaria nesta tarde fria
de estar com você, assim, todinha minha,
tocando-a, beijando-a,
desfrutando da mais doce volúpia

Minha língua e boca em seus mamilos,
sentir o sopro pequeno de seu suspiro,
sua voz suave num gemido fino,
desfrutar de toda a sua feminilidade.

Ah! Como eu queria agora acariciar de leve toda a sua pele e esfregar-me freneticamente, unindo-me a sua carne. Dizer-te com muito bom grandíloquo, o quanto louco eu fico, quando você se deita comigo.

14/07/2006

20º

PARA ALGUNS PAULISTANOS

Vedes o que ali reside,
um hóspede indesejado,
um transeunte do passado,
querendo se erguer as nossas custas.

vedes um vagabundo,
não possui nenhum vintém,
um João ninguém,
metido a turista.

Vedes, e não duvide, aquele ar de requinte é só um disfarce, um plebeu vestido de príncipe, um nobre fracasso, de nenhum palácio.

Não és nenhum general e tão pouco um soldado raso, é um desleixo da sociedade,
um ser fora da realidade, cumprindo a sentença de não ter ninguém.

14/07/2006

21º

MODÉSTIA

Todo poeta é incompreendido,
e eu não sou uma exceção,
todo poeta é metido,
porque todo poeta é bonito.

Todo poeta é romântico,
boêmio, tímido,
todo poeta é sábio,
porém desorganizado.

Todo poeta deslumbra,
todo poeta é saudosista,
irrita-se com a monotonia,
mas adora o ócio.

Todo poeta é um pouco músico,
excêntrico e libidinoso,
todo poeta é curioso,
não é nada óbvio.

14/07/2006

22º

NOTÍVAGO

Quero cantar-te ó noite fúnebre;
saudações de seu discípulo noturno!
De seu mais célebre, soturno,
entre a minha sordidez, meus pensamentos pagos,
por migalhas deixadas por escravos vagos.

Quero sucumbir-me entrelaçado em sua brisa fina,
vagar nas calçadas da cidade fantasma,
espantar dos telhados seus gatos sádicos,
e ter nos becos, sabedoria, com os teus ratos.

Quero ver-te ó lua meia, ontem, ainda cheia,
agora um buraco no vácuo.
quero ver-te estrelas guia,
a cidade baixa se ilumina,
com as suas luzes cintilantes.

Quero não sonhar esta noite,
não ter com os seus pesadelos.
ouvir o murmúrio de mendicância ecoando de teus
guetos, desvendar aos poucos os teus segredos.

Quero ver minha sombra de subúrbio,
assustando, pichadores surdos,
assaltantes burros,
atrás de cada poste.

À meretriz vou dedicar um soneto,
para a cafetina um café pequeno.
para o guarda um cachorro quente,
e ao mendigo, um gole de aguardente.

2005

23º

POBRE POEMA

Poema de despedidas,
poema de desilusões,
amores partidos,
traições.

Amores secretos, amores mortos,
amigos mortos, parentes.
Poema, narrativa dor, pobreza,
poesia sem rima, palavras tensas.

Pobre poema degela o peito,
segredos, petrifica a alma.
Poema triste, fora de seqüência,
poema tolo.

Arrependido, louco,
poema fraco solto,
poema sem luz,
fosco.

Poema cuspido,
empalhado,
inerte,
igual santa no altar.

Poema sujo,
flagelado,
mudo,
calado!

Poema corrupto,
poema triste de dar dó,
poema franzino,
rasgado.

Poema em trapos,
farrapos,
estilhaços,
quebrado!

Poema,
sem vergonha,
amontoado,
fatídico!

Poema sem lustre,
manchado,
mofado,
fedido.

Poema fétido,
derramado,
escoa na folha:
ferido.

19/07/2006

24º

SONHO INDIANO

O vento soprava de leve a vela do castiçal,
e ela perambulava nos corredores de vestido longo indiano, na sala ela dançava, ao som de cem cítaras e mil batidas de tablas.

“Era assim que se iniciava o dia daquela menina hindu”, na América do sul:
Com música e dança!

Havia incensos espalhados, no chão almofadado,
alguns lírios, taças e fumos, havia em todo o recinto pétalas de rosas vermelhas.

E ela então deslumbrava em delírio e veemência aos olhos de quem a fitava inertes.
Uma deusa tentadora de desejos alheios, uma mistura de cigana indiana com princesa africana.

Beleza rara nunca antes visto, a não ser em tentadores sonhos.

27/07/2006

25º

ADMOESTAR

Como é lento este seu pensamento!
não avança se cansa rápido,
como é fraco, retardado.

Como é impreciso este seu sorriso,
tão escuso e amarelado;
pare com este discurso, ultrapassado.

Mude estes seus trajes,
faça um novo penteado,
não fique ai sentado.

Fale alguma coisa,
deixe de ser tão calado,
pautado.

Seja transparente,
ninguém aqui entende,
este seu jeito recatado.

Pare de se sentir culpado,
todo mundo aqui esta errado.
não seja assim demasiado, disfarçado.

Não deixe sua vida desmedida,
não a interrompa apenas com uma vírgula,
tenha sobre ela cautela e muita critica.

2006

26º

ABSTINÊNCIA

Às vezes não nos controlamos,
nossa calma é interrompida,
nossa serenidade desmedida,
e jogamos fora todas as regras.

Às vezes doe a cabeça,
tão circular e espessa,
nossos nervos ficam a flor da pele,
e os nossos poros não aceitam, repelem.

Nossa boca fica seca,
nosso peito cheio de anseio,
ficamos ansiosos e inquietos.
Procuramos fuga em ruas sem saída.

É como sustentar uma ferida,
com cortes em doses homeopáticas,
é descontentar-se e sentir fadiga,
e não suportar olhar a própria face.

2006

27º

TRIBUTO À MEMÓRIA CURTA

Sons,
ruídos,
tudo em um segundo.

Explosões,
ruínas,
tudo em um minuto.

Sangue,
de tudo que é gente jorra,
em menos de uma hora.

Guerra e atentados,
mortes e tudo o que é insano,
no intervalo de um ano.

Tempo!
dias a fora,
em apenas uma década tudo vira história.

2006

28º

MORCEGOS NEGROS                                                                                         
 “Citação ao livro morcegos negros de Lucas Figueiredo”.

O cigarro queimava no cinzeiro,
a sensação de leseira lhe tomava o corpo,
seu copo de uísque Já ao meio,
generosas gramas de pó no espelho;
e os seus pensamentos, ainda que lentos, vigoravam.

A reunião passou para um estado lânguido e tenso,
os olhares avermelhados de cansaço e as vozes hora graves tornaram-se roucas.
Às vezes o silêncio bradava ao esquecimento.

Linhas e linhas são escritas em ata sublime,
registro longo em uma tortura árdua,
nos bastidores do poder conspiravam ao crime,
gente graúda de cara limpa deixava pendurada as suas mascaras.

Dinheiro e poder,
combinação perigosa,
drogas,
lavagens,
esconderijos fiscais,
viagens,
propina!

Não era um mero factoide desnecessário,
mesmo que muito se abafava.
Era algo além e aquém do que a corrupção que rolava, eram indícios de controle de pura máfia.
(Ingenuidade só dos caras pintadas)
  
Houve assassinatos,
queima de arquivos,
muita sujeira no país do carnaval!
vistas grossas no reino do futebol.

Você já se pôs a questionar,
o quanto não sabemos?
você já tirou alguma estimativa
do quanto nos foram roubados
em todos estes anos?

Nos bastidores é que estão os verdadeiros donos,
enquanto não passamos de números.
É por de baixo dos panos!
sempre será.

Cultura às avessas,
eterna inversão de valores,
éticas desonrosas,
ignorância pouca?

A reunião então chegara ao fim,
com uma farta partilha de um nobre queijo de dólares.

2006

29º

CRIAÇÃO DIVINA 2

Feche os olhos,
sinta a brisa que há,
agora abra os e veja,
os desenhos simétricos que compõem o mar.

2006

30º

O PRIMEIRO GOLE DO MEU PRÓPRIO VENENO

Escrevo em versos,
meus anseios pequenos,
minhas idéias vagas,
todo o tipo de sentimento.

Escrevo com a força da palavra,
minha melhor ferramenta,
minha mais potente arma,
o meu pensamento.

Escrevo com apreço,
tudo o que meus olhos vêem,
tudo o que me convém,
aquilo o que é real e o meu coração sente.

Escrevo ansioso,
sem medo,
mergulho,
no Primeiro gole do meu próprio veneno.

2006

31º

UMA ÚLTIMA CANÇÃO ROCK AND ROLL

Ele calçou seus sapatos bico de aço pela ultima vez,
vestiu aquela jaqueta de couro desbotada preta, há tempos pendurada no cabide, e na velha vitrola, rolava um rock and roll tal qual um Little Richard.

Tomou sua aguardente e disfarçou um sorriso contente; pôs uma boa dose de parafina nos topetes.
Na escrivaninha onde ficavam os seus manuscritos, tomou de assalto um velho mapa para as colinas.

Ele estava tranqüilo, mascava chicletes, seu olhar estava fixo para uma fotografia do Elvis e então acendeu um ultimo cigarro antes da partida.

Abriu uma garrafa de Jack Daniel’s já antiga e ofereceu aos amigos um ultimo brinde.
E Billy partiu sem olhar pra traz, havia deixado ali e para sempre todo aquele desgosto que sentia pela vida.

A Nathanael em memória

2006

32º

O QUE PERSISTE

Se não sou mais o suficiente,
se meu amor já não te agrada,
de certo o calor se apagou,
e não devemos alimentar velhas chagas. 

Se não caibo mais neste seu mundo,
se não há lugar para mim agora,
não sou homem a quem se deva ter piedade,
posso tranquilamente ir-me embora.

Não se torture e procure o que te falta,
mas não me deixe sentado em sua porta,
à espera que eu compreenda tal ilógica,
de sustentar este sentimento tão vazio.

Por favor, olhe em sua volta,
sei que aqui você é feliz,
mas ao meu lado isto te sufoca.

Talvez eu já não te preencha mais com este meu coração tão pertinaz.

26/10/2006

33º

DELÍRIOS DE UMA TARDE ENSOLARADA

Queria eu ter sido um Chico,
ou Drumond de Andrade,
tomado uísque com Leminski num final de tarde.

Um Pessoa como Neruda,
ter tido a delicadeza de Meireles,
escrever como quem pede música,
tal qual um João Ricardo.

Andar pelas ruas de Paris,
discutindo com Sartre sobre os ares de nossos Brasis. Queria eu ser um eterno jovem como Castro Alves.

Ter a rima na ponta da língua,
criando versos em prosa em toda praça e jardins.

2007 

34º

HOJE

Hoje quero ouvir algo que me toque, 
hoje eu quero que alguém me toque,
que afine este meu ser
desafinado,
me inspire,
alguém que me beije.

Alguém que não me deixe,
entrar num baile desavisado.
Hoje eu quero uma paixão,
uma canção,
um dedilhado,
em alto tom,
um olhar.

Um banquinho,
um violão,
um perdão e 
muita saudade!

Quero alguém,
pra curtir está solidão,
do meu lado.

12/12/2012

35º

“Queria poder podar as rosas daquele jardim,
preparar um ramalhete e dar-lhe de presente,
para que você Deixe de enfeite em sua varanda elegante”.

36º

VAMPIRISMO DIURNO

Flagro ao meio dia,
meu entardecer,
sua testa franzina 
sobre mim, lança os teus olhos
famintos.

Sugam feito vampiro,
meu fôlego,
minhas forças,
minha energia.

2010

37º

EM UM MOMENTO

Em um momento
fixo os olhos 
uma miragem 
Algo que se confunde 
e transforma a paisagem.

Era uma bela alma 
se entrelaçava entre as árvores 
que deslumbrantes balançavam 
e dançavam abraçadas com o vento.
Em um momento...

2011

38º

FOGUEIRA (AS TREZE TAÇAS)

Há uma lâmina,
a espreita daquela esquina
do outro lado da rua,
contando a sorte em cada sete.

            E ela veio!

Há uma fogueira,
lançando mil faíscas,
sob o céu noturno,
que o vento veio soprar.

Há uma dama que dança ao luar.

Há imagens raras,
de velhos ritos,
querendo cegar
olhos notívagos.

            De vestido negro!

E também há a queda das estrelas,
o rapto do sol, que a noite veio ocultar,
e aquele fogo:

Como uma dama dança ao luar!

Bailando com uma dança do ventre,
seduzindo e aquecendo
tudo ao seu redor.
Transformando em brasa os corações.


Brindando a noite com doze           
Taças de vinho tinto           
E uma taça de belos sonhos!

E há também sangue e morte,
vem matando toda inocência,
transportando o ideal,
ao real visível.

E o fogo é uma dama que dança ao luar...  
                         
06/09/2003

39º

ASCENSÃO E QUEDA

Quando há tristeza, a frieza na alma se eleva. 
Tudo esfria e nada se aquieta. 

Quando não há mais beleza, a fraqueza nos ossos irrita e a ausência de luz nos cega. 

E tudo na vida é ascensão e queda! 

Ascensão e queda, 
só a fé liberta, 
cura as chagas do coração. 

Quando não temos mais nenhum quinhão, 
nos colocamos a olhar para o céu.
A humildade é prima irmã da oração! 

Sempre haverá uma nova canção! 
2012 anos de história, 
a humanidade comemora, 
mas a barbárie ainda mora dentro de cada nação.

Quando há tristeza há frieza n'alma.
Quando não há beleza nada se eleva e tudo nos cega.

E tudo na vida é ascensão e queda! 

2011

40º

CASO NÃO ENTENDA

Há uma nuvem negra
cobrindo a cidade
houve uma pane
pânico nas ruas de São Paulo
o crime não tem mais idade
vistas grossas sobre à Cracolândia

Um carro esporte atropelou um atleta
crime pago sob fiança
botaram fogo na favela
mataram mais uma criança

Caso não entenda
sintonize o Datena
comandante Abutre que o céu sobrevoa
guiado pelo cheiro de carniça
a máquina que não enguiça 
está mídia sensacionalista

Está tudo estampado nas páginas da Internet
de pedofilia sacra à gafe da cantora pop com Playback 

Depredaram a reitoria da Universidade pública
e quem é quê paga o cheque?
aumentaram os tributos, geraram uma nova multa
até colocaram no seguro a bunda da Gretchen!
E com o quê você se diverte?

Tumulto no transporte público
onde foi que o metrô errou?
engarrafamento nas marginais
falta de leitos nos hospitais
o quê ainda não se publicou?

Caso não entenda sintonize o Datena!
foi ele quem explicou
entre um anuncio de carro e uma propaganda de antena foi ele quem exclamou
gritou com o guarda e xingou 

Foi o Datena
ele me inspirou
a ver TV e sofrer
ele inventou a dor

Foi o Datena
mais que pena
o programa acabou.

12/2011

41º

SILÊNCIO E PAZ

O quê você faria
se não soubesse que 
no fim, tudo ficaria
bem melhor que agora?

Onde você iria?
quando no fim
enfim perceberia
que era preciso apenas,
ter mantido a calma.

Pare e pense e entenda,
há muito aí dentro de você,
pronto pra saltar pra fora!

E um pequeno instante,
poderá ser infinitamente grande,
quanto nesta hora.

Abra à janela,
sinta a brisa entrar por ela,
e tranque de vez a porta,
pra tudo que não importa.

Você sabe bem o que faz,
e muito mais!
não há grito algum
capaz de silenciar a sua paz!

2010

42º

JABUTICAQUI

Olhei o meu futuro por uma fresta de luz, e ao querer antecipar os meus passos acabei tendo uma cegueira passageira.

É com os pés fincados ao chão do presente que devemos nos adiantar pois, o futuro, na verdade não nos pertence e não nos pertencerá.

Há uma grande euforia,
a festa está nas ruas,
tomando de assalto mentes e corpos,
que vestidas de chita,
se poem a dançar! 

Festa de cores em movimento,
beleza e música se misturam,
deixando uma clara impressão 
de que a poesia está solta no ar.

Com um gosto doce de fruta,
e com nome de um animal da terra,
a nossa cultura que outrora obscura
se ergue no centro desta selva de pedra.

E foi em Mogi
em pleno encontros e desencontros,
que eu vi crescer, 
Jabuticaqui!

30/05/2012

43º

ENTRANDO NA MENTE DE ESPÍRITOS LIVRES

Eu caminhava,
e entre sombras nas ruas,
e em passos pequenos,
eu via minha mente se distanciar.

E lentamente,
em doses homeopáticas,
eu via surgir outro ser
em meu lugar.

A me consumir,
como quem se apodera,
me esgotava,
minha força vital.

Acreditava ser,
uma guerra interna,
o bem contra o mal.

E então eu vi uma brecha,
para a minha fuga.
E assim falou Zaratustra:

"Eu sou entre estrangeiros
o meu próprio precursor, o meu próprio canto de galo nesta rua escura."                                                                                                                     Friedrich Nietzsche.

E tenho com a arte a sobriedade que necessito,
o passa tempo dos sábios,
que produzem um leito sereno,
para quem quer se recostar.

"A arte é invenção,
é o inconsciente do artista,
o sonho, o imprevisto,
a forma nova.
A arte não é só talento,
mas sobretudo coragem."
                                       Glauber Rocha.

Temos com nossas vontades carnais e materiais,
o próprio inferno,
um exílio de medo e apreensão,
nos falta apenas a ousadia dos bons.

"Sou um verdadeiro vácuo,
embriagado de orgulho e translúcido...
como o mundo que quero conhecer a fundo."
                                Jean-Paul Sartre. 

Estamos atrás de um progresso,
mas há apenas duas formas de progredir,
ambas devem se coincidir,
sejam elas o progresso intelectual 
e o moral.

Assim fazemos o nosso adiantamento,
a evolução é natural.
E enfim estaremos para além do bem e do mal.

"O homem prudente
deve seguir sempre as vias traçadas
pelos grandes personagens,
procurando igualar-se aos que foram excelentes."
                                     Maquiavel
2012

44º

BEING LOST, SINKING.

Hoje me encanto com a brincadeira dos gatos,
que saltam do muro ao telhado.
Tanta liberdade, o céu azul, fora o ar seco,
este Sol que brilha.

Hoje a tristeza me abateu,
está companheira fria,
chega e se deita em meu peito,
e com suas luvas me acaricia. 

Minha vontade pouca,
de nada pensar, de nada fazer, apenas sonhar.
Minha voz rouca, de nada dizer, de nada a cantar,
apenas engasgada com as promessas da vida.

Há propaganda infeliz!
se soubesse, não estava aqui,
talvez em outro mundo,
está minha ansiedade de voltar.

Voltar, vontade estupida,
voltar para onde?
não sei, mas sinto que este nunca foi o meu lugar,
talvez haja uma outra casa, ou que este realmente não seja o meu lar.

Estar perdido,
não ter um guia, nem um rumo a tomar.
Me sinto afundando,
como se houvesse pedras em minhas pernas jogadas ao mar.

2012

45º

CANÇÃO NOVA

Quero poder dizer algo novo,
imaginando começar uma nova canção.
Há tanta angustia em meu peito,
mas não quero reclamar,
pelo menos hoje isto está fora de cogitação.

Há tanta coisa boa pra se orgulhar,
e há tanto em mim há me envergonhar.
Fora está maquiagem de palhaço,
existe uma euforia em recomeçar.
Fora as vezes em que fui um completo otário,
sei que ainda tenho muita lenha pra queimar.

E se ainda me resta tinta e algumas folhas de papel,
Desenho nela o meu inferno sendo abraçada pelo céu. E se ainda tenho folego e saúde pra andar,
subo a colina para aquela selva desbravar.

Vou tocar velhas cantigas,
e usar o vento para leva-las,
e vê-las atingirem a todo lugar,
os montes, as serras e o mar.

Tomar um novo animo,
e acabar de vez com está fadiga.
Vou dar outros tons e outras cores a minha vida,
e fazer dela uma nova tela pra pintar.

2012

46º

A PALAVRA

De onde vem a palavra?
da escrita ou da fala?
será que ela se cala?
de onde vem a palavra?

Eu sei que está minha rima te irrita!
e que minha grafia te assusta.
e que a caneta pode ser uma arma!
me diga de onde vem a palavra?

E pra que te serve a palavra?
para te-la ou guarda-la?
para ouvi-la ou propaga-la?
sei que ela simplesmente se espalha.

E porque temer a palavra?
ela te elogia ou difama?
te machuca ou maltrata?
de onde é que vem a palavra?

Talvez eu saiba,
de onde vem a palavra.
a verdadeira atrás da farsa,
a mentirosa, fere feito faca.

A função da palavra,
é materializar idéias,
e não se pode abafa-la,
ser livre, é a função da palavra.

29/08/2012

47º

AOS ILETRADOS

Aos iletrados eu dôo minhas palavras,
não, não se trata de poesia, e sim de imagens,
vejam as letras, ouçam o som, e imaginem o resto:

Um homem calça suas botas, veste um casaco,
caminha até a porta e a abre para sair,
está porta emite um rangir, ferrugem,
som estridente, na rua uma fina garoa,
as gotas caem e deslizam em seu rosto pálido,
ele então caminha.

Ao dobrar a esquina topa com um mendigo deitado,
coberto por uma manta suja, cinza.
O céu todo é cinza, a luz do poste ilumina a chuva,
de repente um gato atravessa a rua, uma garota se assusta, o homem ri.

Ele caminha mais um pouco, entra num bar, compra cigarros e pede uma bebida, a bebida te aquece e seu rosto enrubesce, uma prostituta lhe pede uma tragada, ela é alta, magra, seus lábios vermelhos, cabelos curtos e olhos secos.

Ele lhe paga uma garrafa, eles conversam um pouco e saem para rua, agora mais escura, não se vê tanto o cinza, entram num motel barato, o homem o deixa pago e os dois sobem as escadas.
No meio da noite na madrugada, o homem desce só, passa pela porta e vai embora.

Pisa em uma poça d'água quase escorrega, não há tanta firmeza nas suas pernas então anda mancando.
Ouve um grito de longe, sirenes da policia, os carros cortam velozes e passam ao teu lado indo para sua direção contraria.

O homem então cruza novamente a esquina, chega perto em sua porta que agora abre sem rangir, entra e pendura o casaco, tira suas botas, cruza o corredor, chega à cozinha, abre alguns enlatados para comer antes de dormir.

E então vão me perguntar: e os iletrados? 
E eu responderei: e a prostituta?

30/11/2012

48º

VISÕES PERIFÉRICAS

Olho pela minha janela,
vejo garotos soltando pipa das suas lages,
fogos de artifício vindos da favela,
e a noite as luzes de natal.

Ao longe tento alcançar algum horizonte,
mas vejo casas amontoadas aos montes,
sirenes e carros emitem sons de freadas e funk,
bebês chorando e sinto um cheiro de feijão da casa vizinha.

Ouço gritaria vindos do boteco da esquina,
vejo os gatos correndo nos telhados,
ouço palavrões de uma briga de casal,
um homem ao celular dizendo estar com saudades de sua terra, e mais fogos vindos da favela!

29/11/2012

49º

EXPRESSO NOTURNO (TREM SEM RUMO)

Quando pegamos o expresso no trem sem rumo,
nos perdemos no tempo e espaço,
a cada trecho e em cada túnel,
vemos imagens em vultos,
do que um dia fomos nós.

Nossa calma perdida,
nossos sonhos se esvaem na neblina,
lá vem chegando o trem noturno,
talvez este seja a nossa ultima estação,
quando todos voltam,  veem a nossa partida.

Não é de bom agouro olhar pra traz!
a viagem é longa e cansativa,
a cada parada uma nova saída,
não sabemos se podemos mudar,
só sabemos que não é bom ficar.

Tento de toda forma lembrar,
em onde e em que trecho eu deixei escapar,
por entre os dedos, parte d' vida.
A via férrea é tão antiga,
desgastada!

Olhos vazios me fitam,
buscam em mim um resquício, uma migalha,
as pessoas sugam umas nas outras suas energias,
todos pensam estar realmente indo pra algum lugar,
mas no trem noturno não há rumo a se tomar.

A vida deveria ser mais vagarosa, rodar bem mais devagar, nós deveríamos ter o tempo pra poder olhar, pela janela da composição, os horizontes, a vista contemplar.

21/10/2012

50º

COMO É QUE SE FAZ (TERAPIA PRIMEIRA)

Definitivamente eu não acho justo, esta decadência já existia, muito antes de eu vir ao mundo.
Nasci entre o fascínio e as facilidades, dos vícios e do consumo, mas sem estrutura, vi um pequeno castelo desmoronar.

O pai que eu achava possuir tudo,
mas que na verdade só tinha tomado emprestado.
Um dia o tudo que eu via foi devolvido,
devidamente ao seu verdadeiro dono.

Então entre a infância e a mocidade,
pra mim foi um pulo, a inocência,
a virgindade; e as dores dos adultos,
sentia e os tomava como se a mim pertencia.

Brinquei de Deus correndo sobre corda bamba,
pois bem, sim foi por Deus que deveras não cai.
O tempo nunca foi tão amigo assim, sim ele cura chagas, mas também nos cria rugas, ele carrega as mágoas e em contra ponto, nos deixam as culpas.

Conheci ainda muito cedo, a cor de sangue, está cor que me ainda repugna, quando ainda criança na madrugada ouvia, estalos, como bombinhas, morteiros, e vi na casa vizinha uma poça vermelha e um corpo carregado do velho comerciante. Que por não ter pago aquela velha propina, fora fuzilado e seu corpo deixado debaixo do chafariz.

Da mocidade até minha vida adulta, ainda não entendo como as coisas são, pra que tamanha crueldade se da vida tudo fica, a morte não carrega coisas, nem mármore, nem carros, nem statos e coisa alguma, apenas sua degenerada alma.

Não acho justo, já haviam guerras, drogas e ganancia antes no mundo.
Nenhuma mãe ou pai gosta daquela velha malcriação de criança, quando presenciando suas inúmeras brigas, diz, eu não pedi pra nascer, e quando os filhos lhes vem pedir ajuda, muitas vezes ficam em cima do muro.

Não tardou, pintou a fuga em rabos de saia,
gravidez, abortos e mais sangue!
Noivado forçado, trabalho sujo.
Traição! Ah fera maldita, não se trata uma ferida de uma traição, está fica, você pode perdoar mas tudo pela frente já não é confiável, nem amigos, mulheres nem nada, tudo te ameaça.

Mas enfim quando um dia você realmente vê, ela passa. Pinta uma nova cilada, paixão, devoção e quando os planos surgem novamente, um banho de água fria. Esfria, você chega a não achar mais graça, e ao seu redor, todos estão ali, a desfrutar, sei que todos sofreram ou sofrem algo, mas realmente a minha frente só desgraça.

Sei que pinto um quadro obscuro, mais de muitos, crio piada. Mas não sou palhaço e acabo sendo rude e assusto desavisados.
A grana não vem, o carro, a casa e o maldito statos,
sou bom em encher folhas de palavras, mais nada.
Vida injusta, me prega peças, quando deparo com mortes na "estrada" àquela namorada, que deixei plantada, que em uma carta me culpava por toda a sua dor.

O amigo e os planos de escrever juntos, a doença o levou, e a pouco, a morte novamente bateu nas portas do meu novo amor.
Porque Deus destas amarras? não pude fazer nada, vida desgraçada de quem ainda roga por paz.

Não acho justo, vir ao mundo sem um manual explicando como é que se faz. 

24/10/2012

51º

"Atravessar o tempo com vara de pau cutucando o vento e o desafiando, pois nada na vida é imutável, viver sempre foi um duelo mortal." 

52º

UM CANTO ENQUANTO ESPERO

Esperando o cheiro de fumaça se dissipar,
o sol novamente brilhar, o amor bater na porta sem avisar, o chamado de Deus para um proposito maior.

Esperando o tele cine acabar,
numa noite de segunda feira tediosa.
Esperando a Madre Teresa de Calcutá,
cair do seu laço, esplendorosa.

Esperando o Papa tropeçar em sua manta vigorosa,
um vidente a assoprar pseudos adivinhamentos do amanhã, ele não sabe que o amanhã é agora, 
tão previsível quanto falsário.

Esperando o anjo cair e novamente voar,
esperando Kardec ressuscitar de sua sombra na pedra e Cristo tocar guitarra em uma banda.
Esperando a criança voltar da escola com segurança, esperando a nova bossa nova pois a outra já é velha.

Esperando a velha dança de ciranda para quem é novo, esperando o baile de primavera.
Esperando como quem está cansado de esperar,
esperar é ter certeza do que ira ganhar,
só espera aquele que merece.

Ir atrás das coisas e não deixa-las entrar,
é tão somente esperar por nada, esperar o perdão é para quem não sabe perdoar,o perdão é de dentro pra fora, não vale apena esperar.

Esperar o canto do galo é se atrasar, antecipe seus passos, cante antes do galo cantar.
Esperar o novo presidente é tão obvio,
melhor é assoviar.

Esperar a riqueza é acreditar nela, melhor é ignorar, acreditar na riqueza é como esperar  a noiva no altar, sem saber ao certo se ela virá, deixe as coisas acontecerem. Assim você terá certeza, que a melhor coisa foi esperar.

2013

53º

O AGORA E O LUGAR

E se foi assim,
sem se despedir,
na aurora do tempo,
um lamento,
e uma canção de amor.

Rostos sem expressões,
conversas vazias de mesa de bar,
tentando de toda forma achar,
alguma explicação.

Todos sabem,
por quê todos sentem,
aquela coisa no coração,
num eterno pulsar.

Uma arritmia
uma descompassada,
altera seu humor,
acaba com o seu dia.

Fotos nos fazem recordar,
fatos do dia a dia a nos distanciar,
reconheço na alegria das pessoas,
que eu tento disfarçar,

à minha própria agonia de não desfrutar,
das simplicidades alheias,
peculiaridades das pessoas, 
que apenas gostam das coisas sem pensar.

Sou um equívoco passageiro,
num bonde ao luar,
indo em rota à frente,
para os que vem atrás, avisar:

Não há nada além,
o hoje e o agora é o seu lugar,
também não há nada mais atrás,
apenas viva a onde está.

2013

54º

SAUDOSISMO PASSAGEIRO

Saudade das prateleiras de livros velhos,
de disco tocando na vitrola, dos papos de filosofia depois da aula, do cheiro de fritura da cantina,
saudades da inocência que eu tinha, da vontade de mudar o mundo, da roda de violão em frente a padaria, da viela de paralelepípido, das reuniões intermináveis da Gremeação.

Saudades do gosto do vinho barato,
da carteira de cigarros e do isqueiro Zippo.
Saudade do beijo de menina, das cartas de amor trocadas no patio do colégio, das trocas de olhares no corredor. Saudades de andar nas ruas sem medo,
de me olhar no espelho, de ver os ensaios de teatro e das bandas de garagem.

Saudade das professoras de história,
das aulas de arte e do cheiro de tinta,
das manifestações populares na avenida,
dos protestos e até das brigas,
saudade do tempo em que eu vivia.

2013

55º

RASCUNHO

Deixei partir o amor,
fui fraco eu sei,
quando percebi,
foi quando acordei.

Tentei lhe bendizer com uma flor 
que outrora roubei,
dum jardim proibido,
por onde passei.

Agora só me resta está dor,
que devo suportar,
sei o quanto já lamentei,
não quero aporrinhar.

Deste rascunho sem cor,
pode brotar,
quem sabe um samba,
pois sei que vai gostar.

Por você naveguei,
em mares desconhecidos,
também saboreei,
do mais doce manjar.

Fui descuidado eu sei,
deixei me levar,
pelos vícios que herdei,
mas nunca pelo vício de te amar.

Te amei desde a primeira vez,
desde quando pude te olhar,
e ainda ouço a música do teu riso,
quando vou me deitar.

Dei atenção a tua dor,
como se ela fosse tão minha,
talvez te sufoquei,
com minhas manias.

Não pude dar mais,
sinto muito,
mas neste tempo curto, 
dei o que podia.

Agora eu sei, 
não fui tão bom assim,
e mesmo que não pareça,
a culpa foi toda minha

2013

56º

RABOS

O Brasil é um país que vence tropeçando!
de guerreiros suburbanos!
de calos nas mãos e nos pés,
de sol na moleira e muita fé.

As cidades são como um oceano,
de gente que naufraga,
de zumbis das esquinas,
dominadas pelo crack.

O aroma é de gasolina,
de um lado a pobreza do outro ostentação.
O dinheiro a maior peste a que mais mata,
o Brasil é um rato escondido dentro duma lata.

País de bêbados errantes,
jogadores de futebol,
rendeiras, traficantes,
políticos sexuais,
tráfico de gente.

País de bunda!
bunda, muita bunda,
rabos traçados,
noite e dia,
rabos!

2013

57º

É BELO SER FEIO

Ser feio ajuda
em achar tédio no belo!
O belo é cor púrpura
e o feio a cor é abrupta!

A beleza tem endereço,
é tão padronizada,
o feio é alternativo,
é feio falar mau do belo.

É tão belo na mulher sua bunda,
no feio é tão feio!
É feio no belo sua arrogância,
é belo no feio ser sincero!

É feio apontar o dedo,
é tão belo ser elogiado,
é tão feio no belo seu narcisismo,
é tão belo no feio ser puxa saco!

É feio no belo sua ignorância,
é belo no feio ligar pra estética,
é feio forçar a amizade
mas é belo toda e qualquer semelhança.

O belo se gaba,
o feio se perfuma,
o belo também caga,
mas o feio é quem leva a culpa.

2013

58º

QUE AMANHÃ EU AMANHEÇA

Que amanhã eu amanheça,
com boas ideias na cabeça,
que amanhã eu amanheça,
tão seguro de si como nunca fui,
Que amanhã eu amanheça,
sem toda está incerteza,
que amanhã eu amanheça,
sem culpa e sem dor,
que amanhã eu amanheça,
com um bom café sobre a mesa,
que amanhã eu amanheça,
com mais fé e mais beleza,
que amanhã eu amanheça,
com mais paz e mais amor,
que amanhã eu amanheça,
e que em tudo eu veja mais cor,
que amanhã eu amanheça,
com Deus e com alegria,
que amanhã eu amanheça
sem mais tanta tristeza,
que amanhã eu amanheça,
com mais música e mais leveza,
que amanhã eu amanheça.
que amanhã eu...
amanheça!

19/03/2013

59º

O GRITO

Nos dias mais turbulentos,
quando não houver prece,
ainda restará o grito.

O rito tribal,
voltando às raízes,
o grito de guerra!

Guerreiros errantes,
tudo queima e sangra,
Vikings, Hititas o Hoplita Grego.

Quando os sete selos,
As sete trombetas
e as sete taças, enfim ressoarem:

Terá tido razão os crentes?
serão julgados os descrentes?
ou a interpretação de séculos fora erronia? 

E o que dirão os sábios
e a ciência ?
O que dirão quando a moeda cair do lado que pende à submissão?

Terão ainda os guerreiros?
a vontade viva e humana?
de protestar suas terras?

Quando ao deparar com a maior de suas ignorâncias,
o homem terá vergonha?
o que será que dirá o homem ao homem?

Tenho por mim que enigmas são só um passa tempo,
de quem tem tempo de sobra pra especular,
a verdadeira sabedoria ainda mora apenas no reino das idéias...

de resto há apenas duvidas e resquícios reais de amor e dor.

24/04/2013

60º

LEIA RAUL

Quem viu Raul aí?
quem toca Raul aí?
quem viu o disco voador subir?
quem viu a pedra do Gênesis?
quem deixou a barba crescê?
e ficou maluco e beleza?
quem viu a metamorfose acontecê?
e não se tocou que havia uma mosca na sopa,
e transou com Deus e o Diabo?
quem foi quem não entendeu o recado?
e continua juntando seu ouro de tolo?
e jogando o jogo dos ratos?
quem não cuspiu na estrutura por falta de cultura?
quem sonhou sozinho?
quem sonhou junto e tornou realidade?
quem foi que viveu da sua maneira?
quem foi feliz tendo amado uma vez?
quem seguiu o seu caminho mesmo sem saber pra onde ir?
quem aprendeu o segredo da vida?

Se não tocar Raul leia Raul!
2013

61º

AOS REIS DE MENTIRA

O que eles querem ver tombar?
Uma real história ou uma franzina?
Quem cobra agora aos reais devedores?
Os reis que devem e se escondem atrás da cortina.
O poder se fragiliza com os gritos da esquina!

Não é uma nova ordem mundial, 
é apenas a voz que se alivia,
do fato de ficarem mudas,
enquanto os reis determinavam suas vidas.
Aos reis de mentira!

Cuidado com as flechas que vem da direita,
olhem nos olhos eletrônicos!
cuidado com o "arco da promessa" à esquerda,
que confunde a cabeça,
de quem não pensa!

Cuidado com a maquiagem dos Teles Jornais!
Eles não querem que você apareça!
E quem sai em sua defesa?
A luta nunca foi  injusta!

Olhem na rede eletrônica:
Contem os peixes!
Aos reis de mentira!
Partidos partidos,

Aos reis de mentira!
É proibido se exibir, é proibido!
A linha é dura mas já não dita,
o quepe caiu na rua,
foi pisoteada enquanto você dormia!
Aos reis de mentira!

Deflacionaram o coletivo,
que nunca andou sozinho,
usaram o corretivo,
e jogaram fora os papéis!

E lá se vai as bandeiras,
e ficam os sorrisos,
mas eis que chega a roda típica 
e carrega a dívida pra cá!
E roda os indecisos e roda sempre o peão,

Aos reis de mentira!
ouçam a canção!
Aos reis de mentira!
Uma história tão antiga,
repleta de vida e paixão!

2013

62º

DESCORTINAR

Neste dia úmido
eu me absorvo de tudo
Absorto e mudo
contemplo o pensamento

esqueço e lembro
tudo em um minuto
o agora é um prato fundo
de feijão com arroz

eu como e me farto
será meu fracasso?
Não acho
o frio me faz querer calçar sapatos

estou recluso
mas vejo o mundo
pelas janelas eletrônicas
As sensações digitais

escrevo e leio
releio e publico
a poesia virou um abrigo
a sobriedade me faz capaz
de ouvir e enxergar mais

o que os ouvidos e os olhos já não entendiam
que sou eu o único ser capaz 
de determinar os rumos de minha vida

conheço bem os perigos da esquina
Mas nesta tarde fria 
apenas me sinto em paz!

2013

63º

DORMINDO ACORDADO

"É o que de dia me esforço pra lembrar no que a noite não consigo esquecer, é a balada que toca na rádio sem parar, aquele refrão que sai da boca sem eu perceber, é quando escrevo sem notar o teclar, é quando toco no violão aquele acorde sem saber,
é o sopro divino no ouvido a declamar a poesia que nasce do vazio, e você se pergunta de onde aquela ideia surgiu e se dá conta de que é algo que nunca viu, de que seu cérebro teima em pensar mesmo quando você está dormindo acordado".

2013

64º

AMNÉSIA ANTERÓGRADA (REFLEXÕES SOBRE BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS)

Hoje eu acendi uma bituca de cigarro que você deixou no cinzeiro só pra sentir a tua boca queimar
Hoje eu rasguei uma foto sua refletida no espelho
só pra não ver teu rosto em meus olhos flutuar

E ainda assim senti teu cheiro no banheiro
e lembrei o quanto fui ingenuo ao acreditar
que você voltaria a ser só minha e eu seu por inteiro e como sempre restava eu à vacilar 

me perdi em um copo de bebida que você deixou ao meio sei que a tua intenção não era de embriagar
lembrei do enrosco emaranhado de seu cabelo
que você não deixava bagunçar

Dos gritos e gemidos e dos teus seios
que não cansava de admirar
Lembrei de como as vezes me sentia um brinquedo
daqueles que só você sabia manipular

Mas sempre que me bate o desespero
eu reflito que é melhor ter com o esquecimento
do que com a besta fera que é o lembrar

2013

65º

DATA VÊNIA 

Juristas, advogados
o que aprenderam 
em tantos anos de estudo?
a condenar os justos?
ou julgar inocentes
todos os injustos do país?

Não há habeas corpus
para a prisão das ruas
não há perdão pra quem 
trabalha à margem
Mas há impunidade
pra quem paga propina!

É impune os que se dizem donos do mundo,
os que incitam a guerra
inflamam as favelas
e deixam seu povo sem saída
esperam sentados enquanto
pegamos a fila!

Eu que não sou réu 
me sinto um condenado
enquanto o poder usa o seu véu
a mídia cega que mistifica
a injuria das bocas sujas
que vagam no congresso e no senado!

Não há país e nem estado,
quando a balança da justiça só pende de um lado.
tudo ficou confuso, policia e ladrão!
Atestando Deus como Diabo
e matando aos poucos cada cidadão
que esperam ao menos uma forma justa 
de não serem tão injustiçados!

2013

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