Jude
Você sabe que existe um clássico lançado por uma banda de rock quando bate o ouvido e você vê que houve um sentimento sincero e um trabalho apaixonado por trás de cada onda sonora das faixas que nosso ouvido é capaz de absorver; é quando você percebe que não se trata de apenas música, como se algo estivesse para acontecer em uníssono no momento em que as pessoas derem uma chance.
Este é o caso da Jude, que chega com seu álbum de estreia com uma qualidade absurda nos arranjos e uma proposta sonora outrora saudosa que é atualizada com uma nova geração de músicos experientes, o que faz a gente sentir saudade de um tempo em que nem éramos nascido. Com uma forte presença de influências de Beatles, Mutantes, Secos e Molhados, Ave Sangria, Som Nosso de Cada Dia, Clube da Esquina, Sá, Rodrix & Guarabyra, a banda, formada por Reuel Albuquerque (Morfina), Fernando Brasileiro e Alexander Campos (Ex-Necro), é recheada de tons psicodélicos e cordas notoriamente bem timbradas que se casam perfeitamente com uma melodia vocal doce – constituindo refrões memoráveis, temos aqui uma coleção de potenciais hits reunidos em uma verdadeira obra-prima do revival em plena Alagoas, um puro diamante dilapidado e pronto para apreciação. A propósito, a terrinha tem um flerte bem sucedido com grupos musicais que se deleitam no legado de ouro do rock.
Não se sabe se a mística da coisa está na água nordestina (vide a façanha psicodélica dos pernambucanos da Ave Sangria, com seu disco lançado em 1974) ou se o fenômeno sonoro bateu forte aqui pra uma porção de jovens que nasceu bem depois da época em que tais sonoridades eclodiram; o curioso é que o revival na terra dos marechais passou a ter notoriedade nacional com a evidência alcançada pela Mopho, por seu primeiro disco nos anos 2000, onde se vê uma mistura do pop ”beatlemaníaco” com elementos de rock progressivo, com direito a elogios do ex-mutante Arnaldo Baptista, o quilate de ser considerado um dos melhores discos da década e o alcance nas paradas de rádio norte-americana. Tempos depois, em 2009, surge a Necro, capitaneada por uma nova geração de jovens que, conduzindo competentemente o bastão, atualizam o resgate de gêneros sonoros setentistas para uma nova leva de público ao passo que reconquista a memória dos mais ”old-school” com seu som mais sombrio e ”sabático”, fazendo turnê e encantando a cada apresentação ao vivo – entre as bandas nacionais. Mas se o descobrimento dessa fonte de artistas apaixonados vem com tais bandas que automaticamente se tornam referências para todo alagoano roqueiro de gosto refinado, a consolidação de Alagoas como berço da boa música da escola velha vem mesmo com as novidades que passam a existir, e nesse caso a Jude é a bola da vez.
A banda, que lançou timidamente seus dois singles Ainda que de Ouro e Metais e Vá Ser Feliz Como o Arnaldo Baptista no finalzinho do primeiro semestre andou trabalhando nos últimos meses no disco completo, que acaba de ser lançado de forma independente e com o apoio da gente aqui da Crooked. Cada música do disco homônimo possui canções diferentes que, entretanto, não saem da pretensão de manter raízes calcadas nas suas referências, sempre apontando para os idos da década de 60 e 70.
Produzido pela própria banda e turbinado com participações especiais de representantes dessa leva de artistas como João Paulo da Mopho, e Pedro Ivo da Necro, é de longe um dos discos – senão o disco do ano mesmo neste finalzinho de 2016! Seguindo com a bela arte de colagem para capa feita pelo nosso artista, Elizeu Salazar (a.k.a Lzu).
Recomendamos a audição repetida e sem limites da obra na íntegra! Todo sucesso e devido reconhecimento à Jude! (Texto: Crooked Tree Records)
Discografia
Ainda Que de Ouro e Metais (2016)
Reino Fungi
Sabe quando você entra num daqueles brechós cheirando a mofo e naftalina, onde décadas se atravessam e se confundem em meio a roupas amareladas, máquinas de escrever enferrujadas, discos arranhados e vitrolas emperradas? E de repente você não sabe mais em que tempo está, até porque, hoje, a linha que separa o retro e o moderno é mais tênue do que acordos de paz no Oriente Médio? Pois bem, nesse lugar empoeirado, mas mágico e charmoso, o Reino Fungi poderia tranqüilamente passar tardes inteiras fazendo pano de fundo para os clientes que entram e saem. O quarteto de Joinville (SC) transpira a paixão pelos primórdios do rock'n'roll já no nome (Reino = domínio, lugar, ou campo em que alguém ou alguma coisa exerce poder absoluto; esfera, âmbito + Fungi = antigo, usual).
Coisa de quem cresceu ouvindo Beatles e a Jovem Guarda, e quando aprendeu a segurar um instrumento, decidiu que era aquele som que queria fazer - e tinha certeza de que os outros iriam gostar. Dito e feito. Com a juventude local já babando pelos ternos, pelas melodias e pela energia dos rapazes, a banda entrou em estúdio e na base do "1,2,3 gravando" registraram o primeiro (e auto-intitulado) CD, que saiu em 2004. Ouvindo músicas como "Misterioso Lugar", "Monte Crista", "Poesia com Amor" e "Casa de Mato", percebe-se que o tempo do Reino Fungi é mesmo outro - mais colorido, animado, natural, romântico, psicodélico. O segundo CD foi lançado em novembro de 2006. Reino Fungi e o Clube do Chá Dançante foi produzido pelo lendário Carlinhos Borba Gato e saiu pelo selo Allegro Discos, com distribuição da DI (grupo Trama). Além de novas pepitas retrô como "Clube do Lacinho", "Sinto" e "Vivo Só", o grupo providenciou três releituras de músicas da Jovem Guarda, entre elas a soberba "Você não serve pra mim", composição de Renato Barros que foi um dos grandes sucessos do Roberto Carlos no disco "Em Ritmo de Aventura" (1967).
Reino Fungi e o Clube do Chá Dançante fez mais do que consolidar o nome da banda no cenário catarinense. Além de ser indicado ao Prêmio TIM de Música 2008, o disco gerou dois clipes: "Verão do Amor", exibido pelo canal Multishow, recebeu indicação para o melhor clipe de bandas novas em 2006, enquanto que "Sinto" entrou na programação da MTV. Como que num sonho, a banda "reencontrou" seus ídolos em 2008. Primeiro, foi convidada para participar do projeto Tremendão, em homenagem ao Erasmo Carlos, para o qual gravaram a música "Meu Mar". Depois, integraram um tributo brasileiro aos 40 anos do Álbum Branco dos Beatles ao lado de pesos-pesados como Zé Ramalho, Zélia Duncan, Lobão, Flávio Venturini, Jerry Adriani, Marcio Greyck, Sylvinha Araújo, Pato Fú, Paulo Ricardo, Biquini Cavadão, Os Britos e Paulinho Moska. Para gravar o clássico "Mother Nature's Son", os rapazes foram a Belo Horizonte, onde fica o Estúdio Máquina, de propriedade do Skank. Durante a carreira, o Reino Fungi tem participado de diversos programas de televisão no sul e sudeste, com destaque para os programas Repórter Record (em agosto de 2005, cujo tema foi os 40 anos da Jovem Guarda), Jornal da MTV, Na Pilha (TV Com Floripa), Patrola (RBS Floripa), Papo Clipe (RBS Porto Alegre) e Radar (TVE Porto Alegre). (Texto: Last.fm)
Discografia
Reino Fungi (2004)
E O Clube do Chá Dançante (2006)
A Música Universal do Reino Fungi (2011)
Vitrola Sintética
O ano de 2015 está sendo especial para o Vitrola Sintética, formado por Felipe Antunes (voz e guitarra), Otávio Carvalho (baixo e programações) e Rodrigo Fuji (guitarra e piano). Em junho, a banda paulista lançou seu terceiro disco, “Sintético”, em turnê pela Espanha e Portugal. Em setembro, veio a feliz notícia de o grupo está indicada a duas categorias do Grammy Latino: Melhor Artista Revelação e Melhor Engenharia de Gravação. A premiação acontece no dia 19/11, em Las Vegas.
“Sintético” tem 11 canções inéditas e foi gravado entre janeiro de 2014 e janeiro de 2015 no estúdio Submarino Fantástico, em São Paulo, e contou com mixagem de Otávio Carvalho e masterização de Felipe Tichauer. O álbum traz diversas participações especiais: Maurício Pereira (voz e saxofone em “Minha Garota”), Bárbara Eugênia (voz em “Inconsciente Inconsistente”), Gustavo Ruiz (guitarra e violão em “Minha Garota”), Gui Calzavara (trompete em “Duvido Não Depois”), Pedro Mibielli (cordas em “Faz um Tempo”, “Beijo de Rimbaud”, “Mergulhar” e “Inconsciente Inconsistente”), Fê Stok (slide em “Deus Te Ouça”), e André Molinero (teclado em “Beijo de Rimbaud” e “Duvido Não Depois”).
A maioria das composições tem natureza rock – como nos outros trabalhos da banda, Expassos (2013) e a estreia em disco, Notícias (2009) - mas a sonoridade do grupo se expande com o uso de pianos, cordas e programações, fazendo a banda alcançar um sotaque próprio dentro do atual cenário da música brasileira. Há violência num rock direto de 2 minutos (“Etéreo”) e o requinte intimista de “Duvido Não Depois”, em convivência harmônica de timbres sintéticos e acústicos.
Destaque também para a poesia da banda, neste disco ainda mais madura e mais segura de sua mensagem. As letras – a maioria escritas por Felipe Antunes, embora o álbum conte também com criações de Otávio Carvalho (“Mergulhar”) e Felipe, Otávio, Rodrigo e Enzo Banzo, do Porcas Borboletas (“Não Vai Mudar”) - refletem sobre a eterna coabitação de dor e alegria que cada ser humano carrega em si, e nos sugerem, faixa a faixa, que a beleza está no movimento da busca por respostas, e talvez não na resposta em si.
Depois dos shows de lançamento na Europa, o grupo agora foca suas atenções no Brasil. Em outubro, a banda inicia turnê de apresentações em São Paulo e em cidades do interior. Neste shows, a banda apresenta ao público seu novo baterista, Kezo Nogueira.
Trajetória
A banda começou em 2006, mas o primeiro disco, “Notícias”, só chegou em 2009. Após shows nas casas de shows independentes de São Paulo, a banda gravou, em 2012, o segundo álbum, “Expassos”, que levou o grupo a se apresentar em espaços importantes da cidade, como Studio SP e Centro Cultural São Paulo. No final de 2013, o Vitrola cruzou a fronteira para uma turnê de 4 shows pela Argentina. O intercâmbio com as bandas locais, a ótima repercussão entre o público portenho e uma agenda de entrevistas para rádios e jornais fortaleceram os laços entre o Vitrola e a Argentina. A banda tem planos de voltar ao país em breve.
Discografia
Notícias (2009)
Expassos (2013)
Sintético (2015)
Mahmed
O Mahmed vem mudando nossa perspectiva no que se refere a música instrumental e experimental de modo intrigante. Um quarteto de Natal com referências alternativas que roubou a atenção do público e imprensa nacional em 2015, com um álbum improvável e delicado, seguido de uma série de apresentações elogiadas pelo Brasil. Dois anos após o lançamento do EP de estréia "Domínio das Águas e dos Céus", lançaram pelo selo Balaclava Records o aclamado álbum "Sobre A Vida Em Comunidade".
O disco esteve presente em diversas listas de melhores do ano, com uma extensa turnê de divulgação, passando por festivais como Coquetel Molotov (Recife), DoSol e Mada (Natal), Mundo e Hacienda (João Pessoa), Picnik (Brasilia), Mimpi Film Fest (Rio de Janeiro) e Balaclava Fest #2 (São Paulo). Eleito um dos melhores shows no Dia Da Música 2015. Em 2016, o grupo já se apresentou no Festival Bananada em Goiânia e no prestigiado Primavera Sound em Barcelona, além de uma breve turnê pela Espanha.
O EP “Ciao, Inércia” é o material mais recente do grupo. As três faixas foram gravadas em março de 2016 no Cantilena (Natal/RN), estúdio do baterista e produtor Ian Medeiros. Mixado por Walter Nazário no estúdio Vovó em Natal. Masterizado por Arthur Joly no estúdio Reco-Master em São Paulo.
Composto nos intervalos de viagens da banda durante 2015, o EP transmite com leveza uma vida em câmera lenta, mas em constante movimento. As canções, curtas e diretas, trazem a sensação de liberdade na contramão de uma intensa rotina e a proximidade dos integrantes com a vida urbana. Por trás da música e da arte de "Ciao, Inércia" está a falta de gravidade e o desapego a um lugar fixo, o que trouxe uma sonoridade mais melancólica em relação aos lançamentos anteriores. (Texto: Balaclava Records)
Discografia
Domínio das Águas e dos Céus (2013) [EP]
Sobre a Vida em Comunidade (2015)
Ciao, Inércia (2016) [EP]
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