sexta-feira, 16 de dezembro de 2016
JONNATA DOLL E OS GAROTOS SOLVENTES - CROCODILO - LANÇAMENTOS DO ANO 3 - O ROCK INDEPENDENTE BRASILEIRO (PARTE 24)
O melhor do pós-punk nacional voltou na figura de Jonnata Doll e os Garotos Solventes, embalado com a velha estética Junkie Nova-iorquino de Andy Warhol e do Velvet Underground, mais o Glam dos 70 de T. Rex e David Bowie, com uma pegada punk do The Stooges e aquela sonoridade oitentista, mas com uma boa produção, ajudando a banda soar contemporâneo em vez de datada. Lançam seu mais novo álbum "Crocodilo", provando mais uma vez a força da nova cena independente nacional.
Eu já falei dos caras aqui neste blog e nesta série de posts dedicados ao Rock Independente, Jonnata Doll é realmente um frontman/bandleader que toma a cena, além de um bom letrista; um misto de Jim Morrison, Iggy Pop e Lou Reed cearense. O som da banda é urbano, cinzento que nada combina com o sol do Ceará, porém é um fruto de nosso país tão misturado.
Gostei do álbum, apesar de ainda preferir o seu debut, mas é nítida a evolução de um para o outro, contando com participações especiais de Dado Villa-Lobos e Fernando Catatau, sem dúvida este é um dos grandes lançamentos deste ano. Desta vez não farei minha resenha de faixa a faixa e sim replicar uma ótima resenha de Mauro Ferreira do site g1.globo.com:
'Crocodilo' expõe garras ainda afiadas de Jonnata Doll e Garotos Solventes
Domingo, 06/11/2016, às 14:25, por Mauro Ferreira
É difícil ouvir Táxi (Jonnata Doll), sétima das 12 músicas do terceiro álbum da banda cearense Jonnata Doll e os Garotos Solventes, sem pensar no som da banda norte-americana The Stooges. Mas Táxi roda também em trajeto contemporâneo, guiado pelos ruídos dos sintetizadores programados por Kassin e Yuri Kalil, produtores de Crocodilo (EAEO Records), o álbum lançado neste mês de novembro de 2016 por esta banda protopunk formada em Fortaleza (CE), em 2010, na sequência da dissolvência da Kohbaia, a banda mantida por Doll de 1997 até 2009 nos subterrâneos que abrigam o rock independente feito no Brasil às margens do mercado fonográfico, atualmente refratário ao gênero.
Engenheiro de som ligado ao grupo conterrâneo Cidadão Instigado, Yuri já havia produzido o primeiro álbum do grupo, Jonnata Doll e os Garotos Solventes (2014), lançado há dois anos e sucedido por Jonatta Doll e os Garotos Solventes ao vivo, disco gravado em estúdio como se fosse ao vivo, em 2015, e lançado em agosto deste ano de 2016 com repertório no qual já apareciam músicas como Crocodilo (Jonatta Doll e Slean) e a junkie Por uma dose de amor (Jonatta Doll e Slean). Escorado no tripé básico de sexo, drogas e rock'n'roll punk, o primeiro álbum da banda já revelara um cantor e compositor de emoções e vícios reais.
Sempre apontado como espécie de Iggy Pop tupiniquim, Doll tem o talento confirmado neste terceiro álbum da discografia da banda da qual é a alma, o corpo (já menos esquelético) e o mentor. Crocodilo é disco nascido de fase em que Doll tem procurado limpar esse corpo e essa alma das bad trips causadas pelo vício em drogas e pelo suicídio do tecladista John Jonas no quintal da casa em que os Garotos Solventes curtiam a vida adoidado – casa, aliás, batizada de funhouse em referência explícita ao QG dos Stooges.
O som de Crocodilo resulta de fato mais limpo e calmo em baladas como Quem é que precisa (composta por Jonnata Doll com Biagio Pecorelli, diretor da companhia de teatro A Motosserra Perfumada, e conduzida pela levada do violão de Doll na gravação aditivada com overdubs da guitarra e do violão do amigo legionário Dado Villa-Lobos), Já entendi (a melhor dentre as canções menos selvagens) e Drama e terror (balada irônica formatada com o violão de Doll e o baixo de Kassin).
Contudo, ao reciclar Cheira cola, rock punk registrado pela extinta banda Kohbaia em demo de 2003, Doll reacende em Crocodilo com os Garotos Solventes – Edson Van Gogh (guitarra), Léo Breedlove (guitarra), Marcelo Denisdead (bateria) e Saulo Raphael (baixo) – a chama que parece prestes a ser reativada ao simples toque de temas do passado musical e existencial do vocalista, compositor, guitarrista e líder do quinteto. Chama também reacesa em Cigano solvente (Jonnata Doll) com o toque da guitarra instigante do cidadão Fernando Catatau.
No todo, o álbum Crocodilo pode até soar menos ardente, selvagem e sujo do que o antecessor, por conta das baladas, mas preserva as emoções reais de Doll em músicas como Apesar de você ter tesão pela vida – rock de suingue boogie que evoca o som glam da banda inglesa T. Rex – e Gary, rock sobre o cara que nunca consegue mais do que ser amigo da mulher amada e desejada (Gary, no dicionário particular dos Garotos Solventes, é o termo que designa caras do tipo).
Já Swing de fogo (Jonnata Doll) evoca na introdução o som smithiano da fase mais calma da Legião Urbana. A propósito, Doll ampliou a projeção no universo pop brasileiro ao participar, como um dos vocalistas convidados, do show comemorativo dos 30 anos de lançamento do primeiro álbum da banda brasiliense, criada em berço punk.
Entre o presente e o passado (ressuscitado em Ruth, rock feito por Doll em tributo a uma ex-namorada de espírito tão punk quanto o dele), Crocodilo mostra as garras (ainda) afiadas de banda selvagem à procura da lei hedonista do prazer. Jonnata Doll é o cara dessa banda! (Cotação: * * * *) Texto de Mauro Ferreira
(Crédito da imagem: capa do álbum Crocodilo, da banda Jonnata Doll e os Garotos Selvagens. Projeto gráfico de Renan Costa Lima)
Fonte: http://g1.globo.com/musica
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