quinta-feira, 7 de abril de 2016
A BRUXA (DICA DE CINEMA)
Sempre digo que, para um filme de terror ser bom ele deve causar pesadelos e foi justamente isso que este filme, 'A Bruxa', que podemos chamar de até despretensioso, causou em mim esta noite.
Filmes de terror sempre me fascinaram desde pequeno, em minha infância adorava assistir filmes de terror com os amigos, não sei se por causa dos sustos ou da adrenalina que o medo me causava. Ao contrário de muitos amiguinhos que colecionavam figurinhas para álbuns de futebol, eu tinha um álbum de figurinhas de Freddy Krueger (A Hora do Pesadelo) e Jason (Sexta-Feira 13), filmes que me causavam arrepios na época mas, que eu adorava. Para se ter uma ideia, eu morava em um condomínio de prédios de poucos andares, não tinha elevador e eu morava no último andar de um dos prédios, geralmente assitia na casa de algum amigo um filme de terror de noitinha e tinha que subir, até o andar de nosso apartamento de escadas, no intervalo de segundos, não me recordo quantos, as luzes automaticamente se apagavam, aí eu tinha que correr no escuro para o próximo andar para achar um interruptor, para ascender novamente e isso até chegar em casa, movido pelo medo e minha mente fértil, que jurava ouvir e ver sombras atrás de mim, isso quando não gritava para minha mãe vir me buscar, hilário.
Hoje é claro, filmes de terror da época de minha infância nos anos 80 me divertem como se fossem filmes de comédia, não é mais medo que me causam, apenas nostalgia. Mas ontem eu vi o melhor filme de terror da atualidade e muitos vão dizer que não, entendo o porquê, em comparação com o que se produz atualmente, neste filme você não tomará muitos sustos e nem verá jorrar litros de sangue falso, é um filme delicado até, sombrio e extremamente sugestível e por isso aterrorizante.
Não é um filme perfeito, acho até que deveriam ter sido muito mais sugestíveis mas, esteticamente é de uma beleza sinistra, eu sou fã de rock e o visual do filme me remeteu imediatamente a capa do primeiro disco do Black Sabbath. Falando em música a trilha sonora do filme arrepia dos pés a cabeça, a história se passa no século XVII, só esse fato já é um motivo para perceber que em matéria de visual o filme arrebenta.
Separei uma ótima crítica do site www.adorocinema.com, com o título de "Somos todos pecadores", escrito por Bruno Carmelo:
Na primeira imagem de A Bruxa, a família principal é apresentada de costas. Um tribunal acusa-os de heresia, expulsando pai, mãe e cinco crianças da comunidade. Estamos em pleno século XVII, na Nova Inglaterra, onde qualquer desvio da religiosidade padrão é interpretado como grave ameaça ao funcionamento social. Ou seja, a bruxa do título pode ser tanto a figura concreta da feiticeira quanto a metáfora do elemento dissonante, perseguido pela comunidade, como se diz na expressão “caça às bruxas”.
A exclusão do núcleo familiar desencadeia os eventos assustadores do filme. O diretor e roteirista estreante Robert Eggers faz um ótimo trabalho ao associar religiosidade e misticismo, cristianismo e natureza. Por um lado, esta família de moral rígida acredita nas forças malignas que vivem na floresta, por outro lado, carrega em si a culpa típica da moral cristã: se a colheita de milho não dá certo, julgam-se punidos por algum pecado, se alguém desaparece, acreditam num castigo divino... Um dos fatores mais interessantes da narrativa é sua plausibilidade, já que a paranoia não provém de sustos ou sombras à noite, e sim de um fator essencial, a culpabilidade que os personagens carregam consigo desde o nascimento.
Para contribuir ao clima sombrio, A Bruxa aposta na construção de efeitos analógicos, físicos, muito mais viscerais do que as criações digitais contemporâneas. O cineasta extrai medo do isolamento, da floresta fechada, da presença de bichos comuns, além de mostrar criatividade e ótimo senso de composição quando humanos e animais entram em conflito, na segunda metade da história. Após tantos filmes de terror com truques banais e aceleração dos eventos rumo ao final, é um alívio encontrar uma obra que sabe tomar seu tempo, construindo a tensão e a psicologia dos personagens com precisão cirúrgica.
Além disso, a fotografia cuidadosa, usando velas dentro da casa principal e fontes de luz simples nos cenários noturnos externos, cria um belo efeito de solidão que remete à construção estética dos quadros renascentistas. Talvez a maior inteligência deste filme seja perceber como o terror depende da relação entre os personagens e os espaços, e como uma pequena sugestão pode ser muito mais potente do que litros de sangue jorrando em tela. O terço final, excelente, é uma prova disso: Eggers constrói um clímax complexo através de pouquíssimos elementos em cena. Como nos bons suspenses psicológicos, a fonte de conflito é essencialmente humana.
Talvez o filme sofra com uma pequena lentidão no meio da narrativa, e a imagem final também soa explícita demais para quem trabalhava tão bem o poder da sugestão. Mesmo assim, A Bruxa surpreende por fugir dos clichês do gênero, extraindo terror de uma premissa verossímil, capaz de gerar identificação com o espectador. Eggers surpreende pela bela construção de imagens, a progressão madura do roteiro e a direção dos atores – são corajosas as duas fortíssimas cenas em plano-sequência, apostando inteiramente no talento dos atores mirins Anya Taylor-Joy e Harvey Scrimshaw. São elementos suficientes para despertar boas expectativas quanto aos próximos trabalhos do diretor.
Sinopse
Nova Inglaterra, década de 1630. O casal William e Katherine leva uma vida cristã com suas cinco crianças em uma comunidade extremamente religiosa, até serem expulsos do local por sua fé diferente daquela permitida pelas autoridades. A família passa a morar num local isolado, à beira do bosque, sofrendo com a escassez de comida. Um dia, o bebê recém-nascido desaparece. Teria sido devorado por um lobo? Sequestrado por uma bruxa? Enquanto buscam respostas à pergunta, cada membro da família seus piores medos e seu lado mais condenável.
Fonte: http://www.adorocinema.com/
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