quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

A VIDA NA SARJETA (Dica de Livro)

"Pobreza costumava significar passar fome e não possuir as roupas adequadas para vencer o mau tempo, assim como passar horas em um trabalho desgastante para conseguir pagar as contas no fim de mês. Mas hoje a maioria das pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza oficial não só tem bastante comida como, em geral, é provável que esteja acima do peso. Há tantas vestimentas que os jovens delinquentes brigam por causa de roupas de grife ou tênis de marca. Quanto à ocupação, hoje existe menos trabalho em lares de baixa renda do que entre os mais ricos.

A maioria dos pobres hoje tem televisão em cores e forno de micro-ondas. A pobreza no antigo sentido material está longe de ser tão disseminada quanto outrora. A vida nas camadas mais baixas da sociedade, contudo, não é brincadeira - muitas vezes é um pesadelo.

A Vida na Sarjeta, livro recentemente publicado, retrata com acuidade brilhante a dolorosa situação da subclasse - o vazio, as agonias, a violência e a sordidez moral. Este livro trata de uma região de classe baixa da Grã-Bretanha onde o autor, Theodore Dalrymple, trabalha como médico. Na verdade, isso pode tornar a mensagem mais fácil para muitos norte-americanos, para que compreendam e aceitem. 

A maioria das pessoas sobre quem Dalrymple escreve é branca, de modo que é possível contemplar honestamente as causas e consequências do modo de vida da subclasse, sem medo de ser chamado de "racista".

Essas pessoas que fazem as mesmas coisas socialmente destrutivas e auto destrutivas que são feitas nos bairros de classe baixa dos Estados Unidos não podem alegar que tal comportamento se deve ao fato de seus ancestrais terem sido escravos ou porque enfrentam discriminação racial.

Eliminadas as justificativas, talvez possamos encarar a realidade e argumentar de maneira razoável sobre como as coisas ficaram tão confusas e horríveis. Como médico do serviço de emergência, Theodore Dalrymple atende jovens que foram espancados a ponto de precisar de cuidados médicos - por tentar ir bem na escola. Quando isso acontece nos guetos norte-americanos, as vítimas são acusadas de "agir como os brancos" por buscar uma formação. No outro lado do Atlântico, tanto as vítimas quanto os agressores são brancos. 

A região de baixa renda britânica em que Dalrymple trabalha, assim como sua contrapartida norte-americana, tem como característica o que denomina de um "tipo de jovem egoísta e feroz, de quem manteria distância em plena luz do dia". Ele também observa a "destruição dos sólidos laços familiares nos mais pobres, laços que, pela mera existência, faziam com quê um grande número de pessoas saísse da pobreza".

O próprio pai de Delrymple nasceu em um bairro pobre - mas num contexto social muito diferente daquele da subclasse de hoje. Primeiro, seu pai teve um ensino de verdade. Os manuais escolares nos quais aprendeu seriam considerados muito difíceis na era da educação facilitada. 

O pai de Dalrymple adquiriu ferramentas para sair da pobreza, ao passo que à subclasse de hoje não só são negados tais instrumentos, como ela aprende justificativas para permanecer na pobreza - e as ideologias colocam a culpa dos problemas nos outros, estimulando a inveja e o ressentimento. O resultado geral é uma geração de pessoas que tem dificuldade para escrever palavras simples ou para realizar operações matemáticas elementares, e que não tem nenhuma intenção de desenvolver habilidades profissionais. 

Por ter as necessidades materiais providas por um Estado assistencial, como se fossem animais em uma fazenda, essa subclasse tem "uma vida esvaziada de significado", como diz Dalrymple, já que não pode nem mesmo se orgulhar de conseguir pagar a própria comida e a própria casa como fizeram as gerações que a antecederam. Pior ainda, é abandonada sem nenhum senso de responsabilidade num mundo sem juízos de valor.

Alguns educadores, intelectuais e outros creem estar sendo amigos dos pobres ao justificar ou "entender" esse comportamento autodestrutivo e ao estimulá-los a ter uma visão paranoica do mundo que os cerca. No entanto, a coisa mais importante que alguém pode fazer pelos pobres é ajudá-los a sair da pobreza, assim como o pai de Dalrymple foi ajudado por aqueles que lhe ensinaram e possibilitaram que ascendesse a um nível melhor - tratando-o como um ser humano responsável, não como gado.

Nenhum sumário faz justiça aos vívidos exemplos e às argutas impressões de A Vida na Sarjeta. Precisa ser lido - com o discernimento de que a história desse livro também é a nossa história. 

Apresentação do livro A Vida na Sarjeta de Theodore Dalrymple por Thomas Sowell.

Um comentário:

  1. Lançamento livro Nossa Cultura... ou o que Restou Dela
    26 ensaios sobre a degradação dos valores
    Do britânico Theodore Dalrymple, inédito no Brasil - primeiro evento em breve no Rio de Janeiro, na Travessa Leblon:
    www.facebook.com/erealizacoeseditora/photos/a.213839598654854.50130.213460985359382/818508638187944/?type=1&theater

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